A Darwin acaba de levantar US$ 8 milhões (R$ 43 milhões ao câmbio de hoje) numa rodada que vai bancar a visão dos fundadores de ‘disruptar’ o seguro auto — um mercado dominado pela Porto Seguro e que, até agora, parecia imune a novos entrantes.
A rodada, que está sendo chamada de um pre-Series A, foi liderada pelo corporate venture capital do banco BV, que colocou US$ 5 milhões do total.
A capitalização financia o plano de negócios da Darwin por dois anos, permitindo que a empresa execute “com calma e com uma cabeça muito forte de gestão de risco,” o cofundador Carlos Barros disse ao Brazil Journal.
A rodada vem num momento em que a Darwin se prepara para colocar seu seguro na rua depois de mais de um ano desenvolvendo o produto e os canais de distribuição.
Na semana passada, a startup conseguiu a licença da Susep para operar dentro do chamado ‘sandbox regulatório’, uma licença experimental de três anos que exige um capital mínimo menor mas impõe limitações à operação. (Já no ano que vem, a startup planeja entrar com o pedido para uma licença definitiva).
A Darwin quer se diferenciar das grandes seguradoras, como a Porto, com um modelo de precificação que usa dados sobre a qualidade da direção dos motoristas para precificar o seguro — premiando quem dirige com cautela e em regiões mais seguras e aumentando o preço para o mau motorista.
A Darwin colhe esses dados por meio de seu aplicativo, que fica rodando no fundo no celular do cliente e capturando dados como a aceleração nas curvas, a frenagem, o local onde o motorista está dirigindo e se ele usa muito o celular enquanto está no trânsito.
“Não faz sentido uma pessoa que roda 4x por mês pagar o mesmo que uma pessoa que dirige todos os dias. Mas é isso que acontece hoje,” disse Firmino Freitas, o outro fundador. “Vamos precificar o seguro pelo risco que cada motorista gera.”
Segundo ele, isso vai gerar um estímulo para que os motoristas dirijam melhor, além de funcionar como um filtro inicial, já que o modelo vai acabar atraindo mais os bons motoristas.
Para ter flexibilidade para ajustar o valor de forma dinâmica, a Darwin vai cobrar o seguro mensalmente — ajustando o valor todo mês dependendo de como o cliente dirigiu no mês anterior.
O modelo da Darwin é parecido com o da Justos, outra startup (ultra) capitalizada que está tentando ‘disruptar’ o seguro auto com uma precificação mais dinâmica.
Mas diferente da concorrente, a Darwin optou por conseguir uma licença de seguradora em vez de operar no modelo de MGA (managing general agent), em que uma seguradora estabelecida empresta seu balanço e assume os riscos — deixando a startup responsável apenas pela precificação e venda dos seguros.
“Para ter um bom produto temos que dominar todas as fases, desde a subscrição e precificação até o sinistro,” disse Carlos. “É o caminho mais difícil e mais caro, mas é o melhor.”
A entrada do BV no cap table vai ajudar na distribuição do seguro da Darwin. O banco tem uma das cinco maiores corretoras de seguros do Brasil com mais de R$ 1 bi em prêmios emitidos. Além disso, o BV tem uma operação relevante de financiamento de carros, que tem sinergias óbvias com o negócio da Darwin.
“Faz todo sentido explorarmos essa nossa base para vender os seguros da Darwin,” disse Daniel Monteiro, o diretor de seguros do BV. “Mas vamos começar a oferecer no nosso ambiente digital para os clientes mais digitalizados e que ainda não tem seguro, que é onde vemos mais fit.”
Segundo ele, o BV tem mais de 1 milhão de clientes que se enquadram nesse perfil.
A rodada de hoje também incluiu investidores que já estavam na base, como a Invisto Capital e os irmãos Heilberg, da HIX Capital. Álvaro Augusto “Guti” Vidigal, o fundador da corretora Singulare, também participou.