O famoso ‘menino da porteira’ ainda não era nem nascido, e o agricultor brasileiro já tomava decisões de plantio com base na intuição, no passado, ou nas conversas com vizinhos.

Esse tempo passou.

Se depender da Agrosmart, uma startup de Campinas, a vida no campo será cada vez mais baseada em big data e inteligência artificial — e não em superstições ou no movimento dos pássaros.

Para fornecer serviços de monitoramento da lavoura e inteligência de dados, a agtech instala sensores nas plantações de seus clientes e colhe dados em tempo real, como a umidade do solo e as condições climáticas e das plantas. Depois, cruza essas informações com bancos de dados de outras empresas — por exemplo, companhias de satélite e drones — e usa essa inteligência para ajudar o produtor na tomada de decisão. 10763 e60d3d72 7d93 f5fe 68ab 02a83be91e59

O resultado prático: mais eficiência no manejo da lavoura, com redução de custos e aumento da produtividade.

Hoje, a Agrosmart já atende mais de 210 mil hectares de produtores como a Raízen, o Café Orfeu, a Cargill e a água de coco Obrigado. 

Sementeiras como Syngenta e Monsanto e grandes empresas de alimentos e bebidas como Coca-Cola e Pepsico também usam os serviços da startup. A Coca, por exemplo, adotou a tecnologia para ajudar os fornecedores de frutas para o suco Dell Vale, no interior do Espírito Santo, a reduzir o consumo de água. De quebra, a multinacional melhora a sustentabilidade de sua cadeia.

Esta semana, a Agrosmart recebeu R$ 22 milhões numa rodada liderada pelo fundo Inovabra, do Bradesco, e pelo braço de corporate venture da Positivo.  Esta ‘Series A’ — que teve ainda a participação de um family office americano dono de grandes extensões de terra na América do Sul — dará um fôlego de mais 18 meses a operação.

Os investidores anteriores, o fundo SP Venture e as aceleradoras Baita e Thrive, não participaram da rodada e tiveram suas fatias diluídas — o que é natural por serem investidores de early stage.


A galinha dos ovos de ouro da Agrosmart é um produto de recomendação para a irrigação das lavouras — um algoritmo que indica a quantidade ideal de água e o momento certo para o produtor fazer a irrigação. Há ainda uma ferramenta que consegue prever a incidência de doenças na lavoura — e que tem sido usada para antecipar a ferrugem nas plantações de café — e uma outra solução, de previsão de tempo.  

Os resultados são palpáveis. A Agrosmart tem gerado, em média, uma economia de 60% no consumo de água, 40% nos gastos com energia, e um aumento de 20% na produtividade das lavouras, a CEO Mariana Vasconcelos disse ao Brazil Journal.

Filha de um produtor de milho e cana-de-açúcar de Itajubá, no sul de Minas, Mariana fundou a Agrosmart aos 23 anos, junto com Raphael Pizzi e Thales Nicoleti. Na época, ela já havia criado outra startup de Internet of Things e big data que prestava serviço para a indústria, e percebeu a oportunidade de aplicar a tecnologia no agronegócio olhando as dores de seu pai.

“Desde pequena, eu acompanhava de perto o dia a dia do meu pai e via as dificuldades de tomada de decisão no campo,” diz ela. “Sempre foi um processo muito intuitivo.”

Para tirar a ideia do papel, a Agrosmart contou com o seed money do SP Ventures, que investiu R$ 10 milhões na startup em duas tranches: uma em 2015 e outra em 2017. 

A Agrosmart opera num modelo de assinatura anual, que vai de R$ 180 a R$ 500 mil, dependendo do tamanho das lavouras e do nível de inteligência e complexidade dos serviços. O tíquete médio é de R$ 40 mil por ano. 

A startup ainda não chegou no breakeven.

Mariana explica que quando entra numa nova fazenda, a Agrosmart subsidia parte dos custos da instalação dos equipamentos, o que alonga o retorno do investimento. Segundo ela, o tempo médio para os equipamentos se pagarem é de um ano. “A partir da segunda ou terceira safra já temos esse retorno e por ser um modelo de recorrência vamos criando valor para a empresa ao longo do tempo,” diz. 

Com os novos recursos, a Agrosmart está se preparando para lançar mais dois produtos: uma espécie de score de risco das fazendas brasileiras — cujo acesso será vendido para instituições financeiras e seguradoras — e novos modelos de seguro criados em parceria com grandes empresas do ramo. A Agrosmart quer desenvolver, por exemplo, seguros paramétricos para proteger o produtor dos riscos da demanda hídrica e da incidência de doenças na lavoura. 

Outro plano: fortalecer sua presença no exterior. 

Hoje, a startup atua com distribuidores locais em sete países da América Latina e tem uma filial nos Estados Unidos. A ideia é colocar times de atendimento mais robustos nesses mercados e, em algum momento, entrar em novos países latinos, se tornando a líder em agricultura digital da região.

ARQUIVO BJ:

Big data, great vacas