Todos os dias, a Ideagri — uma agtech fundada em 2008 — coleta milhares de dados sobre a produção de leite nas fazendas brasileiras.
Agora, a empresa decidiu processar essas informações e transformá-las num produto inédito no Brasil: um índice que mede a produtividade das nossas vacas.
O recém-lançado Índice Ideagri do Leite Brasileiro (IILB) quer se tornar o benchmark do setor, ajudando os produtores a ter mais clareza sobre seus resultados: minhas vacas são melhores ou piores que a do vizinho? O resultado final: estimular o avanço da produtividade na pecuária de leite.
Para criar o índice, a startup de Belo Horizonte colheu dados de pouco mais de 600 fazendas — dentre as 4 mil que usam seu software de gestão — no período de janeiro a dezembro do ano passado.
No total, 170 mil vacas foram analisadas, com uma produção somada de 830 milhões de litros de leite/ano (cerca de 1% do volume do Brasil). A pesquisa engloba todas as regiões, com exceção do Norte, onde a amostra ficou abaixo do necessário.
Dividido em três grandes grupos — recria, produção e reprodução — o índice é composto por doze indicadores, que vão desde a “taxa de concepção” (quantas vacas engravidaram a cada tentativa) e “idade do primeiro parto” até a “produção mensal por vaca” e a “taxa de mortalidade”.
O índice varia de 0 a 10 — quanto mais próximo do 10 maior a produtividade — e será atualizado trimestralmente. Além do índice geral de produtividade, o IILB traz resultados de cada um dos doze indicadores individualmente.
A ideia da Ideagri é que o produto, distribuído gratuitamente para fomentar o mercado, sirva de chamariz para novos clientes: quem usar o software da empresa terá acesso a funcionalidades a mais.
Terá, por exemplo, seu índice calculado pelo sistema, conseguirá ver o desempenho num ranking nacional e por região, além de fazer análises mais aprofundadas.
Fundada em 2008 por Heloise Duarte, uma médica veterinária especializada em gestão agroindustrial, a Ideagri saiu do papel com o investimento de duas empresas do setor — a Linkcom e a Rehagro.
Hoje, é uma das principais companhias de software as a service do agronegócio, atendendo mais de 5 mil produtores (a maior parte de pecuária de leite, mas também fazendas de corte e agricultura).
O benchmark criado pela Ideagri é um verdadeiro divisor de águas, que mostra que nem tudo no Brasil vai para o brejo.
Até agora, se uma fazenda quisesse comparar o desempenho de seu rebanho com algum dado confiável e abrangente de mercado, ela não tinha escolha: precisava recorrer às vacas americanas.
Por aqui, os únicos dados disponíveis eram os do IBGE. O problema: ele dava uma visão limitada do setor — apenas o volume de produção de leite e o número de vacas — e com alguns poréns. A pesquisa não fazia distinção entre as vacas leiteiras e de corte, tendo pouca serventia no cálculo da produtividade.
“Não só as fazendas, mas vários institutos de pesquisa e universidades tinham dificuldade para trabalhar com dados nesse setor”, Heloise disse ao Brazil Journal. “Nosso índice vai permitir acompanhar a evolução dos rebanhos e jogar uma luz sobre a produtividade.”
O primeiro resultado já deixou evidente a importância dos dados (e o tamanho do buraco): a nota média das vacas brasileiras foi de apenas 3,97. A melhor fazenda, a Cobiça, de Três Corações (MG), fez jus ao nome: chegou a 8,8.
“Há um espaço enorme para melhorar a produtividade”, diz Heloise. “O gap entre as fazendas mais produtivas (as do TOP 10%) e a média do País ainda é muito grande”.
Segundo o estudo, a produtividade das melhores fazendas é 5,5 vezes a média nacional.