Conhecido por seus lendários problemas de gestão, o mundo do futebol está dando um passo importante em direção ao capitalismo.H1903

Alguns dos maiores times do País estão em negociações para abrir redes de fast food próprias, baseadas no sistema de franquias.

O primeiro foi o Grêmio de Porto Alegre, que lançou há pouco mais de um mês uma rede de hamburguerias — para inveja dos colorados.

O próximo será o Palmeiras (Vai, Porco!), cuja franquia vai se chamar “Cantina Palestra” — obviamente, uma rede de comida italiana e uma referência ao primeiro nome do clube (Palestra Itália) quando ele começou em 1914.

“Este é o ‘nível 2’ do licenciamento do esporte: a gente sai daqueles produtos têxteis e daquelas quinquilharias e vai para a comida, algo que as pessoas consomem todo dia, e oferecemos um produto que tem visibilidade e preço,” diz Fernando Ferreira, um dos sócios da SportFood, a empresa que bolou e ‘vendeu’ o sistema de franquias aos clubes. A empresa espera chegar a acordos com mais dois grandes clubes em breve.

(Curiosamente, os dois primeiros clubes a adotar as franquias são os que fizeram arenas próprias em parceria com a iniciativa privada e não têm nada a ver com os estádios da Copa bancados com dinheiro público.)

A franquia do Grêmio — chamada de Hamburgueria 1903 em homenagem ao ano de fundação do clube — evoca em sua logomarca a alcunha da equipe gaúcha: “Sabor Imortal”. (Nota aos leitores não-gaúchos: o Grêmio é conhecido como o “Imortal Tricolor”.)

Todos os burgers da casa fazem referência ao futebol. Tem o América, o Banguzinho, o Copero, o Imortal, o Inacreditável, e, claro, o Libertador, o Monumental e o Mundial.

A previsão da SportFood é franquiar 25 lojas até o fim do ano que vem e 90 lojas até o quinto ano de operação.

O franquiado arca com o custo das lojas, e o clube recebe um percentual da taxa de franquia. O investimento não é trivial. Uma loja de shopping (de 40 metros quadrados) sai por 640 mil reais. Uma loja de rua (80 metros quadrados), por 540 mil. E uma loja móvel (de até 15 metros quadrados), por 195 mil reais.

“A ideia é replicar a atmosfera do clube, fazendo com que o torcedor realmente se sinta em casa,” diz Ferreira. “É uma extensão do clube, da casa dele.”

Até a senha para o cliente esperar o lanche ficar pronto é um trechinho do hino do Grêmio. Neste fim de semana, dia de Gre-Nal (Grêmio X Internacional), a Hamburgueria vai oferecer um burger com o nome do clássico.

A primeira loja da Hamburgueria 1903, no centro histórico de Porto Alegre, foi bancada pela Sportfood. Em um mês, 220 empreendedores demonstraram interesse em abrir a franquia, sendo que metade já tem experiência no ramo. Dez contratos já foram assinados para lojas em Porto Alegre, três delas em shopping centers.

A SportFood também pretende lançar uma cafeteria e uma paleteria (loja de sorvete mexicano) com a marca e a “alma” do Grêmio.

Segundo a PLURI, uma consultoria especializada em negócios esportivos que é sócia da SportFood, os torcedores gremistas têm renda mensal combinada de 7,3 bilhões de reais — a sexta maior renda entre as torcidas do Brasil. (Os corinthianos têm renda mensal de 26,3 bilhões, e os flamenguistas, de 25,3 bilhões.)

O Grêmio tem hoje mais de 7 milhões de torcedores, dos quais cerca de 22% se identificam como ‘fanáticos’, segundo a PLURI.

Para estes aí, haja coração, e agora, haja estômago.

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