A Comcast vai fazer um spinoff de seus canais de TV a cabo, numa sinalização de que a gigante de telecom enxerga pouco crescimento para negócios que já foram sua jóia da coroa.

O spinoff vai incluir os canais de notícias e entretenimento MSNBC, CNBC, USA, Oxygen, E!, Syfy e Golf Channel. 

Juntos, esses canais tiveram uma receita de US$ 7 bilhões nos doze meses encerrados em setembro, segundo o The Wall Street Journal. Hoje, eles estão debaixo da NBCUniversal, uma subsidiária integral da Comcast que detém os parques temáticos da Universal Studios, a plataforma de streaming Peacock, canais de esporte e filmes, e o canal aberto NBC. 

Segundo o WSJ, a aposta da Comcast é que os ativos remanescentes da NBCUniversal estarão melhor posicionados para crescer sem os canais de TV a cabo (ainda que esses ativos estejam gerando resultado positivo hoje). 

“Esse movimento é eles dizendo que não querem mais esse negócio, que esse não é mais um negócio de crescimento,” um analista do setor de mídia disse numa entrevista na própria CNBC. 

Segundo ele, a questão para estes canais é se eles serão capazes de se manter sozinhos. 

A percepção é compartilhada por outros analistas. Num relatório recente, a Morningstar disse que o spinoff dos canais de TV a cabo seria um movimento “estranho.”

“Os canais de TV a cabo provavelmente tem pouco valor sozinhos. Um spinoff teria que ser parte de um movimento estratégico mais amplo, como a fusão com uma outra empresa.”

Num comunicado enviado aos funcionários da NBCUniversal, o presidente da Comcast, Mike Cavanagh, disse que a nova empresa estará bem capitalizada e posicionada para liderar “o ambiente em constante mudança dos canais de TV a cabo, dada a força de seu portfólio e a qualidade e foco de seu time de gestão.”

“A SpinCo [como a nova empresa está sendo chamada] vai prover uma oferta de conteúdo diversa e diferenciada que vai atingir cerca de 70 milhões de residências nos EUA, tornando-a altamente atrativa para investidores, criadores de conteúdo, distribuidores, consumidores e potenciais parceiros. A companhia vai ter um cash flow significativo, um balanço forte e a flexibilidade financeira para perseguir oportunidades de crescimento orgânicas e por meio de aquisições.”

A Comcast disse que o CEO da nova empresa será Mark Lazarus, hoje o chairman da NCBUniversal.

O spinoff mostra a transformação brutal do mercado de TV a cabo num intervalo de pouco mais de uma década. 

Quando a Comcast comprou a NBCUniversal em 2011, os canais de TV a cabo eram considerados um de seus ativos mais atrativos, com oportunidades gigantescas de crescimento.

Nos últimos anos, no entanto, as plataformas de streaming arrebentaram com o modelo de negócios da TV a cabo, drenando assinantes no fenômeno que ficou conhecido como ‘cutting the cord’. 

Apesar de diversas empresas do ramo estarem cortando custos, a Comcast é a primeira a fazer o spinoff de todo o negócio. 

A Disney, por exemplo, chegou a ventilar a ideia de vender a Disney TV e seus outros canais a cabo. Mas no call de resultados da semana passada, o CEO Bob Iger voltou atrás, sinalizando que o preço não seria alto o suficiente e que seria muito complexo separar os canais do restante dos negócios. 

Na CNBC, a notícia do spinoff caiu como uma bomba. 

Segundo o Business Insider, diversos funcionários da emissora foram pegos de surpresa e se mostraram preocupados. 

Na filial de Londres, a preocupação era de que os escritórios internacionais fossem os primeiros a sofrer cortes nos programas e nos funcionários após o spinoff.

 Outra preocupação é que o spinoff possa tornar mais difícil a integração entre a NBC e a CNBC, que vinham colaborando na cobertura de temas de economia, política e esportes. 

“A mensagem vinha sendo de integrar o máximo possível, então eu definitivamente acho que isso levanta várias questões sobre se essa integração pode continuar,” disse um dos funcionários. 

Nas transmissões ao vivo da CNBC, alguns apresentadores chegaram a fazer piada com a notícia. 

Joe Kernan, o co-âncora do programa Squawk Box, disse que a CNBC estava entrando num “mundo frio e cruel.”

Outro âncora da emissora, David Faber, descreveu a situação com uma analogia: “Estávamos num bote salva-vidas que estava meio que afundando. Agora vamos poder nadar por nós mesmos. Então, só depende de nós.”

“Talvez a gente possa se agarrar nas outras pessoas se afogando,” devolveu Kernan.