A Cogna anunciou um plano estratégico para mais que dobrar seu EBITDA e quadruplicar sua geração de caixa até 2024, com o CEO Rodrigo Galindo celebrando um ‘ponto de inflexão’ depois de anos sofrendo com o fim do FIES.
Mas apesar dos planos — a primeira vez que a empresa deu um guidance de longo prazo — os investidores decidiram esperar para ver. A ação, já negociando perto das mínimas históricas, mergulhou 5,5% e fechou a R$ 5,01 (num dia que, de resto, foi fraco para todo o setor). O papel cai mais de 60% no ano.
Parte da pressão sobre o papel hoje: o guidance para o fechamento de 2020 sugere que o EBITDA do quarto trimestre será bem pior do que o esperado.
A Cogna disse que o EBITDA recorrente de R$ 1 bilhão e a geração de caixa de R$ 230 milhões deste ano vão se transformar, até 2024, num EBITDA de R$ 2,4 bi e numa geração de caixa de R$ 1 bi — taxas de crescimento anuais de 25% e 44%, respectivamente.
Por trás do turnaround: uma redução forte nos custos dos campi, com quedas em torno de 20% nos custos fixos, além de uma redução de 27% em outros custos e despesas (que incluem custos corporativos e G&A). Nos últimos meses, a Cogna unificou polos, transferiu outros e renegociou o aluguel de 45 de seus 176 campi.
Para o ano que vem, a previsão é que a receita da companhia ainda caia — por um resquício de perdas do FIES e a migração do presencial para o EAD — mas o EBITDA e a geração de caixa já devem crescer. A partir de 2022, a Cogna espera crescimento nos três indicadores.
A Cogna também está otimizando seu portfólio de graduação — aumentando a participação dos cursos de maior ‘lifetime value’ (engenharias, saúde e direito), que devem chegar a 74% dos alunos em 2025 — e melhorando a gestão do contas a receber, o que deve aumentar a conversão de receita em geração de caixa.
A Cogna anunciou que vai descontinuar o PEP (o programa de financiamento privado que substituiu o FIES), e que a partir do ano que vem seu estoque de recebíveis vai passar a contribuir positivamente para a geração de caixa.
“Com a captação de alunos do segundo semestre caindo 60% no negócio presencial — o que foi muito pior do que os concorrentes listados — é difícil ver como uma melhora tão significativa poderá ocorrer em 2021,” disse um gestor.
A Cogna está mudando seu programa de ‘restricted stock units’ (RSU) para um programa de ‘performance shares’, no qual seus 61 principais executivos receberão mais ou menos ações dependendo do atingimento das metas.
“Nossos executivos estão com a faca nos dentes para entregar esse resultado,” Galindo disse ao Brazil Journal.
Além das mudanças em seu negócio principal, a Cogna também espera um crescimento forte na Vasta, sua plataforma voltada para o ensino básico.
Segundo Galindo, a Vasta já tem um crescimento contratado de receita recorrente (o chamado ACV) de 21% para o ano que vem e deve entregar diversos M&As nos próximos trimestres — adiantando o timeline que havia prometido no IPO.
Além dos números prometidos para 2024, Galindo disse que o investidor ainda terá uma opcionalidade: um marketplace de educação, previsto para o final do ano que vem, que vai agregar ofertas próprias e de terceiros.
A plataforma vai focar em jovens e adultos e terá desde cursos livres e de idiomas até graduações e pós-graduações. (Num primeiro momento, a ideia é que o marketplace ofereça apenas as graduações e pós das faculdades da Cogna).
“É muito louvável que a companhia tenha metas ambiciosas para 2024 e esteja tentando monetizar sua massa crítica no digital e no marketplace, mas antes disso ela tem que lidar com o problema básico de atrair e reter alunos,” diz outro investidor. “O discurso está muito focado no EBITDA para os acionistas, mas quem sabe o problema é mais estrutural que isso?”