Numa transação com múltiplas repercussões para o mercado de cerveja, duas das maiores engarrafadoras da Coca-Cola no Brasil estão comprando a Therezópolis, fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal

A Coca-Cola FEMSA e a Andina — donas de mais da metade do volume de Coca-Cola no Brasil — usarão a Therezópolis para suprir a lacuna deixada pela Heineken. Depois de comprar a Schincariol há quatro anos, a marca holandesa decidiu por fim ao acordo de distribuição que mantinha com o Sistema Coca-Cola desde os anos 80.

A transação adiciona mais um concorrente ao mercado de cerveja — hoje dividido entre Ambev, Heineken e Petrópolis — e marca a primeira vez que a Coca-Cola Company autoriza fabricantes a adquirir uma marca de cerveja, sugerindo que Atlanta está disposta a reavaliar seu modelo operacional para enfrentar o novo cenário de concorrência.

A Therezópolis é uma marca premium artesanal com um market share pequeno e alta percepção de valor: uma garrafa custa R$ 12,90 no varejo.

As engarrafadoras vão manter a integridade da fórmula, incluindo as pessoas envolvidas no processo de fabricação.

Da forma como é fabricada hoje, a Therezópolis não tem escala para atender a FEMSA e a Andina, que distribuem os produtos da Coca-Cola em toda a metade meridional do Brasil.  As duas empresas estão buscando capacidade fabril adicional para aumentar a produção, segundo as fontes.

A transação — que já foi notificada ao CADE — começou a ser gestada quando a Heineken comprou a Brasil Kirin (a antiga Schincariol), o que lhe deu uma malha de distribuição própria.

Na sequência, a Heineken rescindiu antecipadamente o contrato com os distribuidores Coca-Cola.

Desde aquela época, ficou claro para os engarrafadores da Coca que a solução para o seu negócio era buscar marcas próprias de cerveja, e o essencial para eles era partir de uma plataforma já existente.

Quando a disputa foi para arbitragem, um tribunal obrigou a Heineken a honrar o contrato até sua data final em março deste ano, depois postergada para 1 de setembro.  

A ideia é da Coca-Cola FEMSA e Andina é começar a distribuir a Therezópolis tão logo o CADE aprove o negócio. Os compradores estão sendo representados pelo Pinheiro Neto.

Fundada em 1912 por um descendente de dinamarqueses, a Therezópolis até agora pertencia à Greenday Natural Products, uma empresa familiar dona de produtos como a Catuaba Selvagem, o vinho Cantina da Serra e a Ousadia, uma espécie de vodka com suco, dentre outros.

Esta é a primeira vez que os engarrafadores da Coca-Cola serão donos de uma marca própria de cerveja desde a venda da Kaiser para a Molson, que depois a repassou para a FEMSA e, ironicamente, para a Heineken.