Charlie Munger, o megainvestidor e braço-direito de Warren Buffett na Berkshire Hathaway, morreu nesta terça-feira, informou a companhia de investimentos.
Munger, que ocupava há anos a vice-presidência da Berkshire, foi advogado imobiliário, presidente do Daily Journal Corp, e estava no conselho da Costco. Também era filantropo e arquiteto.
Munger era conhecido por ser uma versão mais carrancuda do bem-humorado Buffett, mas igualmente perspicaz.
“Um amigo me disse que a primeira regra da pesca é ir onde estão os peixes. A segunda regra é nunca esquecer da primeira. E nós nos tornamos bons em pescar onde estão os peixes,” disse Munger durante um encontro com investidores da Berskhire em 2017.
Um dos legados de Munger são as pílulas de sabedoria que ele dispensou ao longo da vida. O investidor era um frasista extraordinário.
Em 2021, por exemplo, ele não usou meias palavras para definir o que pensava sobre o bitcoin.
“Eu acho que devo dizer modestamente que todo o seu desenvolvimento é nojento e contrário aos interesses da civilização,” disse ele.
“Não dou as boas-vindas a uma moeda que é tão útil para sequestradores e extorsionistas e assim por diante, nem gosto de jogar bilhões e bilhões de dólares para alguém que acabou de inventar um novo produto financeiro do nada (‘out of thin air’)”.
Munger também tinha um jeito bem protocolar ao discordar do parceiro Buffett.
“Warren, think more about it. You’re smart and I’m right.”
Charles Thomas Munger nasceu na cidade de Omaha em 1º de janeiro de 1924, filho de um advogado e uma dona de casa, Munger trabalhou na mercearia do avô de Buffett na adolescência, mas não teve a oportunidade de conhecer aquele que seria o seu principal amigo e parceiro de negócios.
Aos 17 anos, em 1941, Munger foi estudar na Universidade de Michigan. Porém, dois anos mais tarde, foi para o Exército e foi enviado para a California Institute of Technology para estudar meteorologia. Mas foi somente aos 25 anos que ele conseguiu o primeiro diploma: ele se formou com honras na Harvard Law School em 1948.
Na Califórnia, Munger se tornou sócio de Franklin Otis Booth, membro da família fundadora do Los Angeles Times, em negócios imobiliários, e ganhou os seus primeiros milhões. Booth, que morreu em 2008, viria a se tornar um dos grandes investidores da Berkshire.
Porém, foi em 1959, aos 35 anos, que ele conheceu aquele que mudaria a sua vida. Munger precisou voltar à Omaha para resolver fechar o escritório de advocacia do seu pai. Foi nessa viagem que um dos clientes de Buffett os apresentou e a amizade, mesmo que distante geograficamente, começaria.
Dali em diante, Munger e Buffett se tornariam inseparáveis e criariam um colosso com valor de mercado de US$ 785 bilhões que vem investindo maciçamente em empresas como Coca-Cola, Apple e American Express.
Duas informações no release da Berkshire deixam indícios de um homem que levou uma vida plena e organizada. A nota diz que Munger morreu “peacefully with his family”, e acrescenta ao fim: “Family will handle all affairs pursuant to Charlie’s instruction”.
Um homem sábio sabe viver – e sabe morrer.
Com a passagem de Munger, os gestores de investimento perdem uma das referências da profissão.
Resta-lhes o vasto material de aprendizado generosamente dividido em vida, para usarem de reflexão nos momentos de angústia e dúvida, que por definição são diários.