A Anheuser-Busch InBev está sendo acusada de um crime quase imperdoável na Bélgica: fazer os belgas pagarem mais pela cerveja.

Investigadores da Comissão Europeia, uma espécie de CADE da Zona do Euro, descobriram que a companhia vem dificultando a entrada no país de cervejas produzidas na França e na Holanda, que normalmente praticam preços menores.

As condutas envolveriam as marcas Jupiler e Leffe, as líderes de mercado na Bélgica, o berço da Interbrew, que se fundiu com a Ambev em 2004.

De acordo com a Comissão Europeia, a ABI vem fazendo mudanças nos rótulos para dificultar as importações entre os países: tirou as informações em francês dos rótulos das cervejas produzidas na Holanda, e as informações em holandês do produto que vem da França.  Na Bélgica, cada parte do país fala uma das duas línguas.

Além disso, a cervejaria teria parado de vender ou limitado a quantidade de venda para supermercados e atacadistas franceses e holandeses que mandavam os produtos para a Bélgica, onde a ABI tem mais de 50% de market share.

Redes de supermercados como Carrefour e a holandesa Albert Heijin têm forte presença no país e conseguem abastecer as unidades belgas, que ficam a poucos quilômetros da fronteira, a partir das bases em seus países-natais.

“Essas práticas quebram as regras de competição da União Europeia porque negam aos consumidores os benefícios de um mercado comum – escolha e preços menores”, disse num comunicado a comissária antitruste da UE, Margrethe Vestager.

A investigação, que começou em junho de 2016, ainda não acabou. A Comissão Europeia enviou ontem um ofício à ABI apontando suas conclusões preliminares. A companhia agora terá o direito de se defender.

Se for considerada culpada, a multa pode chegar a 30% do valor das vendas dos produtos em questão, multiplicado pelo número de anos em que a conduta reprovável aconteceu. A multa não pode ultrapassar 10% do faturamento global.

Mais do que doer diretamente no bolso, as acusações causam um problema reputacional para a ABI, que vem sofrendo nos últimos anos para aumentar as vendas em meio à competição cada vez maior com microcervejarias e rótulos artesanais.

No ano passado, pela primeira vez, os executivos da maior cervejaria do mundo – incluindo o CEO Carlos Brito – ficaram sem bônus por não terem conseguido cumprir as metas. Dois executivos sêniores deixaram a companhia no mês passado, em parte respondendo à dinâmica de sucessão de Brito.

A ABI disse que a acusação é apenas um passo do processo e não uma decisão final. Também disse que tem trabalhado de forma construtiva com a Comissão Europeia, e que a integridade e a ética são parte de seus principais valores.