O Canary acaba de levantar seu terceiro fundo de ‘early stage’ — num momento de liquidez abundante no mercado de venture capital e de aumento no tamanho das rodadas.
O target inicial era de US$ 75 milhões — o mesmo tamanho do fundo anterior — mas no final, a gestora acabou levantando US$ 100 milhões.
A captação durou menos de seis meses e foi feita com um pool diversificado de investidores: os LPs incluem empreendedores, family offices, fundos de ações brasileiros, endowments americanos e investidores institucionais asiáticos.
A decisão por aumentar o tamanho do fundo teve a ver com a alta demanda e com o momento do mercado, que “está evoluindo para uma linha de rodadas maiores no early stage,” Marcos Toledo, o gestor do Canary, disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, isso tem acontecido por um aumento na competição do lado dos investidores — com fundos globais começando a olhar mais para o Brasil — mas também porque muitas das novas startups têm sido fundadas por empreendedores de segunda viagem.
“Quando lidamos com empreendedores que já se provaram antes, a empresa normalmente já nasce com um time mais robusto e uma tese mais estruturada,” disse ele. “Não é um powerpoint com duas pessoas.”
No Canary, essa dinâmica é evidente.
Do fundo I para o fundo II, o número de startups com fundadores que já haviam empreendido antes aumentou em 50%. No fundo III, “das 10 empresas que já investimos, 80% são fundadas por ‘second timers,’” disse o gestor.
O Canary Fund III vai seguir a mesma estratégia dos anteriores: aportar em cerca de 50 empresas, entrando em rodadas seed, pre-seed e Series A.
O Canary é agnóstico em termos de setores; seu foco é ser “o primeiro cheque” institucional de suas investidas, ajudando-as em todo o processo de construção da marca, acesso ao capital financeiro e intelectual e captação de seus primeiros clientes.
“Investimos em muitos negócios que ainda não tinham nem nome,” diz Marcos. “Nosso desafio é conseguir transformar uma análise super qualitativa — sobre a pessoa, a qualidade do empreendedor — em algo quantitativo, que possamos metrificar.”
Sempre que conversa com uma nova startup, a gestora roda um modelo com mais de 40 variáveis — como o background do empreendedor e sua familiaridade com o setor — para chegar numa espécie de score dos empreendedores, que mais tarde embasa a tomada de decisão.
Mas para Marcos, o grande diferencial do Canary é seu acesso.
“Não sei exatamente o que vai dar certo, e também não sei o modelo de negócio que vai funcionar,” disse ele. “Mas somos especialistas em gente, e criamos uma rede de empreendedores que nos garante o acesso às melhores pessoas.”
Nos fundos anteriores, a gestora foi a primeira investidora de empresas como Buser, Trybe e Hashdex, por exemplo, além de ter aportado em startups como Sallve, SWAP e Hash.
Das 51 empresas investidas pelo fundo I, 15 já têm um valuation acima de US$ 100 milhões.
O novo fundo vem num momento em que o Canary está se posicionando como uma firma completa de venture capital e não apenas uma gestora de early stage. No ano passado, os sócios criaram o fundo Atlantico, liderado por Julio Vasconcellos e focado em startups mais maduras (tipicamente, Séries A e B).