Nasce uma campeã nacional na indústria americana de semicondutores.
A ação da Intel dispara 28% hoje, com os investidores correndo para o papel depois de a Nvidia anunciar que investirá US$ 5 bilhões na histórica fabricante de chips.
As companhias vão trabalhar conjuntamente no desenvolvimento de “múltiplas gerações de produtos personalizados para data centers e computadores pessoais.”
A Nvidia está comprando US$ 5 bi em papéis da Intel a US$ 23,28 cada, um desconto sobre o fechamento de ontem, e ficará com 4% do capital da empresa.
Com a alta de hoje, a ação já negocia a US$ 31,20.
Já as ações da AMD e da britânica Arm, duas empresas que vêm ganhando mercado da Intel no design de chips, estão em queda. A AMD cai 3%, e a Arm, 5%. A ação da Nvidia sobe 3%.
Pelo acordo, a Intel vai fabricar CPUs da arquitetura x86 personalizadas para o uso da Nvidia – que vai integrar os processadores à sua infraestrutura de data centers para inteligência artificial.
Na computação pessoal, os chips da Intel serão associados às placas com as unidades gráficas de processamento (GPUs) da Nvidia.
“Esta colaboração histórica une a AI e computação acelerada da Nvidia com as CPUs da Intel e o vasto ecossistema x86,” disse o CEO da Nvidia, Jensen Huang. “Juntos, lançaremos as bases para a próxima era da computação.”
“Estou animado em trabalhar ao lado de meu velho amigo Jensen,” disse o CEO da Intel, Lip-Bu Tan.
O acordo ocorre três semanas depois da decisão de Donald Trump de injetar capital na Intel. O Governo assumiu 10% do capital da companhia por US$ 8,9 bilhões, convertendo em equity subsídios que seriam desembolsados em dois programas federais. A participação do Tesouro agora já vale mais de US$ 10 bilhões.
Dias antes, o SoftBank – que vem investindo em diversos projetos de AI nos EUA – havia anunciado um investimento de US$ 2 bilhões na Intel.
A sequência de aportes de capital retirou a ação da Intel de seu valor mais baixo em mais de uma década. Em abril, o papel havia mergulhado abaixo de US$ 20. De lá para cá, sobe 55%.
Para Thiago Kapulskis, gestor do fundo de tecnologia da São Pedro Capital, o Governo dos EUA “claramente quer ajudar a Intel – o que estrategicamente faz sentido” em seu objetivo de manter a supremacia nesse território.
Já a Nvidia se mexe para ficar bem com o maior número possível de stakeholders – e apoiar a Intel pode contribuir para seu bom relacionamento com a Casa Branca, de onde saem muitas decisões que afetam diretamente o seu negócio.
“Para uma empresa do tamanho da Nvidia, US$ 5 bilhões não mexem no ponteiro. É algo neutro para o papel,” Kapulskis disse ao Brazil Journal. “Mas se analisarmos uma segunda derivada, o investimento poderá ajudar a trazer algum benefício do Governo. Não vou dizer que é provável, mas aumenta a chance.”
É a política, estúpido – e isso pode ajudar a entender a alta da Nvidia após o anúncio.
As fabricantes de processadores estão no centro da disputa tecnológica dos EUA com a China. O Governo americano impediu a Nvidia e a AMD de vender para os chineses os seus processadores de AI.
A China, em contrapartida, quer cortar a dependência em relação aos chips americanos. Pequim acaba de determinar que empresas deixem de comprar produtos da Nvidia e migrem para processadores produzidos localmente.