Na primeira aquisição desde seu IPO, a Camil acaba de comprar a SLC Alimentos, dona das marcas de arroz e feijão Namorado, Butuí, Bonzão, e a quinta do País em faturamento e volume.

A aquisição dá à Camil — que opera com a marca homônima no mercado premium — uma segunda marca de combate, a Namorado.  
 
Hoje, a Camil opera uma marca de combate nacional — a Pop — e tem fortes marcas regionais que vieram com aquisições:  o arroz Carreteiro (no Rio), Saman e Pai João (em Pernambuco e no Ceará) e o Bom Maranhense (adivinha onde).  A Namorado, um pouco mais premium, tem presença nacional e deve permitir à companhia trabalhar mais pontos em sua curva de preço.
 
O namoro com a SLC era um caso antigo: as duas empresas já haviam conversado diversas vezes mas nunca chegaram a um acordo.  A SLC pertence à família Logemann, que também controla a SCL Agrícola, e faturou R$ 512 milhões no ano passado, com um EBITDA de R$ 32 milhões. 

A Camil está pagando R$180 milhões (dos quais R$ 40 milhões são ‘holdback’ para contingências) e assumindo dívidas da ordem de R$128 milhões (o dado é do final de 2017). A companhia estima as sinergias com vendas, suprimentos e na parte industrial em R$ 10 milhões/ano, e mais R$ 80 milhões em sinergias fiscais.

 
Com a aquisição, a Camil passa a ter pouco mais que o dobro do volume do segundo colocado no mercado de arroz, a catarinense Urbano.  A aquisição quadruplica a presença da Camil na região Sul (onde seu share vai de 1% para 4%), dá à empresa cinco pontos percentuais valiosos na Grande São Paulo (onde vai de 32% para 37%) e estabelece um posto avançado no coração do Brasil, a partir de uma fábrica em Tocantins capaz de atender todo o Centro Oeste e parte do Nordeste.
 
No IPO da Camil, há pouco mais de um ano, o CEO Luciano Quartiero disse que a estratégia de crescimento teria três pilares:  consolidar a presença nos mercados onde a companhia já atua; entrar em novas categorias como café e massas, que têm alto giro e muita sinergia com os negócios existentes; e ampliar sua presença na América Latina.
 
De lá para cá, o mercado cobrou aquisições da empresa, mas Quartiero manteve a disciplina, frequentemente lembrando aos minoritários que seu dinheiro está investido na empresa também.  (A família tem 60% da companhia.)
 
A Camil enfrentou problemas mais urgentes: logo depois do IPO, sobreveio uma tempestade perfeita, quando os preços do arroz, feijão e açúcar caíram simultaneamente.  A deflação no preço dos alimentos penalizou a ação — que ainda negocia abaixo dos R$ 9 do IPO — e forçou a Camil à velha escolha de Sofia:  preservar margens ou volumes?  
 
“Eu optei por defender margem,” Quartiero disse ao Brazil Journal sexta à noite. “Foi uma decisão dura de ser tomada, mas ainda acho que foi a correta.  O mercado todo sofreu, mas a Camil sofreu menos que todos os concorrentes.” 
 
Ele disse que a queda dos preços “cria o ambiente propício a que saia negócio, mas frequentemente o vendedor pede o preço pré-crise.  O meu papel é provocar, mas quem põe a música pra tocar é o vendedor.”
 
Na sexta-feira, a ação da Camil fechou a R$ 7,80, dando à companhia um valor de mercado de R$ 3,2 bilhões.