A Camargo Corrêa está em conversas avançadas com fundos de private equity para vender uma participação minoritária na Loma Negra, a cimenteira argentina que a empreiteira comprou em 2005.
O objetivo da venda — que deve envolver cerca de 40% da Loma Negra — é levantar algumas centenas de milhões de dólares para reduzir o endividamento da InterCement, a holding de cimento que a Camargo criou a partir do espólio da Cimpor, uma companhia portuguesa que a Camargo e a Votorantim fatiaram e dividiram entre si em 2012.
A Camargo também considerou outra solução: listar a Loma Negra na Bolsa de Nova York e levantar os recursos de que precisa num IPO.
Mas apesar da Argentina ser um dos mercados onde a InterCement opera com a melhor margem, a Camargo perdeu o ‘timing’ da euforia dos mercados com a posse de Mauricio Macri, e agora o mercado de capitais parece uma opção mais arriscada.
A InterCement, que já rompeu limites de endividamento com bancos no ano passado, deve ultrapassá-los novamente no final deste ano, disseram fontes próximas à empresa.
A venda de parte da Loma Negra permitirá à Camargo reduzir a alavancagem da InterCement, que está ao redor de 5 vezes sua geração de caixa anual — acima da meta de 4,5x acordada com os credores.
Uma outra forma de recapitalizar a InterCement seria vender uma participação minoritária na própria holding. A Camargo se mostrou aberta a esta opção desde o ano passado, quando colocou no mercado a Alpargatas e sua participação na CPFL — ambas já vendidas.
No ano passado, a Camargo foi a primeira das 23 empreiteiras envolvidas na Lava Jato a fazer um acordo de leniência; o grupo concordou em devolver R$ 700 milhões à Viúva.
A InterCement é líder de mercado na Argentina, em Cabo Verde, Moçambique e Portugal, e vice-líder no Brasil e no Paraguai, além de ter relevante atuação na África do Sul e no Egito.
A maior recessão brasileira desde os anos 30 ajudou a piorar as métricas de endividamento da Camargo nos últimos dois anos.
O endividamento líquido consolidado subiu de 4,3 para 5,9 vezes a geração de caixa do grupo entre o final de 2014 e de 2015, e, em junho, a agência de risco Fitch Ratings estimava (antes da venda da CPFL) que o endividamento do grupo permaneceria ao redor de 6x em 2016 e 2017.
A Camargo está sofrendo em todas as frentes: o mercado de cimento — antes tido como resiliente — terá uma queda de volume estimada em 13% este ano, e as obras públicas e a construção civil estão paradas. A Fitch estimou que a Camargo não receberá nenhum dividendo da InterCement em 2016, e cerca de R$ 380 milhões da CCR e CPFL.
A Camargo tinha dívidas de R$ 578 milhões vencendo este ano e mais R$ 1 bilhão em 2017, mas suas controladas (excluindo a InterCement) têm vencimentos adicionais de R$ 1,6 bilhão este ano e R$ 400 milhões no próximo.