Enfrentando a necessidade de capitalizar várias de suas empresas investidas, o Banco BTG Pactual encontrou uma forma heterodoxa de se livrar de pelo menos um pepino: a Brasbunker, uma empresa do setor de petróleo que tem demandado sucessivos aumentos de capital e parece destinada à recuperação judicial.
No mês passado, sem sequer notificar seus sócios na Brasbunker, o BTG atraiu um novo investidor para a DSB Serviços de Óleo e Gás, o veículo do BTG que detém 48% da Brasbunker.
O comprador não foi ninguém do ramo de petróleo, e sim o empresário Fábio Carvalho, um advogado mais conhecido pela recuperação bem-sucedida da Casa&Video, uma varejista de eletrodomésticos com sede no Rio de Janeiro. Além de ser o CEO, Carvalho é dono de 50% da rede.
A Brasbunker deve 2 bilhões de reais a credores como o Banco Itaú BBA, o MARAD (a Marinha Mercante dos EUA) e o Banco do Brasil.
Na Brasbunker, controlada pela família Nascimento, o movimento do BTG foi recebido com consternação. A família ficou sabendo que o antigo sócio havia vendido sua participação quando um credor da Brasbunker ligou para a empresa para perguntar o que estava acontecendo. Por meio de seu advogado, a família diz que o BTG violou duas provisões do acordo de acionistas: uma que obriga o BTG a oferecer sua participação primeiro à família, e outra que obriga o banco a dar à família uma chance de cobrir a oferta de terceiros.
O BTG diz que respeitou o acordo, já que não vendeu nem uma ação da DSB: apenas foi diluído pelo aumento de capital. O banco diz ainda que a família tem o direito de comprar sua participação por um valor a ser arbitrado por um avaliador independente a ser escolhido por ambos.
Carvalho e o BTG notificaram o CADE sobre a troca de controle da DSB no dia 30 de julho. O valor da transação não consta na documentação porque as partes pediram ao CADE para mantê-lo em sigilo, o que é comum neste tipo de operação. Um mês antes, ao fechar seu balanço do segundo trimestre, o BTG já havia provisionado quase 100% de seu investimento na Brasbunker — um negócio que foi de ‘eldorado’ a ‘amaldiçoado’ com a queda no preço de petróleo e a implosão da Petrobras.
Na terça-feira passada, o CADE aprovou a transação, dando início à contagem de 15 dias para que outras partes apresentem recurso. O BTG ainda mantém seus dois conselheiros na Brasbunker — Otávio Lazcano e Pedro Jereissati — mas, enquanto a transação não fecha, tem emitido sinais ambíguos sobre seu comprometimento com a empresa: a um credor externo, mandou dizer que não tem mais nada a ver com a Brasbunker; a um grande banco disse que, apesar de não ser mais sócio, ajudaria a Brasbunker a se manter adimplente.
Esta operação de provisionamento e ‘venda’, à qual o BTG não deu muita publicidade, está levando sócios do BTG em outras empresas investidas a se perguntar se este binômio será o modus operandi do banco para se desvencilhar de investimentos que se tornaram um sorvedouro de caixa e atraem cobertura negativa. A outra dúvida é se o BTG fez este movimento para se distanciar de uma provável recuperação judicial da empresa, o que seria negativo para sua marca.
“É provável que o BTG não queira estar na empresa quando ela pedir recuperação judicial, e por isso tenha chamado um cara que é especialista no assunto para fazer isso no lugar dele,” diz uma pessoa ligada aos Nascimento. Carvalho é especialista em empresas severamente endividadas; ele se tornou sócio da Casa&Video — inicialmente, em sociedade com o BTG — quando trabalhava na Alvarez & Marsal, a consultoria contratada pela varejista para auxiliá-la em sua reestruturação.
O BTG diz que é justamente o contrário. “O Fábio foi escolhido pela sua credibilidade no mercado e pela sua habilidade em reestruturar empresas. Quando ele entrou na Casa&Video, ele não deu totó em um banco sequer,” diz uma fonte do BTG.
O BTG se tornou sócio da Brasbunker em 2010, quando investiu cerca de 230 milhões de reais por uma participação de cerca de 37% na empresa. Três anos depois, o banco e a família Nascimento concordaram em dividir a empresa em duas: a família ficaria com o estaleiro e o negócio de ‘bunker’ (uma espécie de posto de gasolina para navios), que é um sólido gerador de caixa. Já o BTG ficaria com o negócio de apoio marítimo (essencialmente, o abastecimento de plataformas em alto mar) e o negócio ambiental da empresa.
A cisão acabou nunca se efetivando, mas o BTG começou a capitalizar a empresa, especificamente o negócio de apoio marítimo, que consome muito capital e que ficaria com o banco. O BTG injetou mais de 400 milhões de reais na empresa por meio de debêntures conversíveis que começam a vencer em novembro deste ano. A conversão desta dívida em ações vai elevar a participação que o BTG detinha na empresa — e que agora pertence a Carvalho — para 54,1%, dando a Carvalho o controle da Brasbunker.
“Apesar de termos apoiado a empresa em quatro diferentes momentos — injetando capital, atraindo outros investidores e emprestando dinheiro — nossa permanência na empresa ficou insustentável devido a diferenças de curto, médio e longo prazo com a família,” diz uma fonte do banco. Nos últimos dois meses, o BTG e os Nascimento tentaram um acordo pelo qual a família compraria de volta a participação do banco, mas a conversa naufragou.
Os Nascimento consideram o movimento feito pelo BTG — incluindo a alegada quebra do acordo de acionistas — uma oferta hostil, e pretendem levar o caso para arbitragem. Mas já contrataram um assessor especializado em pancadaria: Pércio de Souza, da Estáter — o gladiador preferido de Abilio Diniz — além dos escritórios Couto Silva e Nunes Ferreira. O BTG vai de Machado Meyer e Sergio Bermudes. Carvalho está sendo assessorado pelo Castro Barros, onde já trabalhou. A coisa promete.