Keir Starmer liderou a volta do Partido Trabalhista ao poder em julho do ano passado, depois de 14 anos de governos conservadores no Reino Unido.

Ganhou com a promessa de baixar os decibéis da política incendiária, oferecendo um governo centrista e pragmático contra os populistas da direita.

Um ano e meio depois, no entanto, a frustração dos britânicos está escancarada nas pesquisas de opinião.

Qual a sua avaliação de Starmer como primeiro-ministro? “Ruim”, dizem 76% dos eleitores, de acordo com os números mais recentes da YouGov. Em agosto do ano passado, o percentual de avaliação negativa estava em 43%.

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A taxa de aprovação caiu de 36% para 15% – e o percentual de pessoas que aprovam o Governo como um todo é ainda menor, recuando para perto de 10%.

Starmer ostenta a maior queda de popularidade de que se tem notícia para um novo primeiro-ministro – o que vem fortalecendo a oposição, cujo maior expoente hoje é Nigel Farage, que despontou na cena política promovendo o Brexit e agora parece destinado a ser o próximo primeiro-ministro.

Depois de ter militado por anos no UK Independence Party, Farage é desde junho do ano passado o líder do Reform UK – um partido direitista fundado há sete anos que emergiu ao posto de maior força de oposição e vem conquistando eleitores antes fiéis ao tradicional Partido Conservador, que deu ao país expoentes como Winston Churchill e Margaret Thatcher.  

O Reform UK tem se consolidado com folga nas intenções de voto para as próximas eleições. Em uma pesquisa recente do instituto Find Out Now, o partido ficou com 31%, contra 20% dos conservadores, 18% dos verdes e apenas 14% dos trabalhistas. Os números de outros institutos são semelhantes.  

Farage – que já foi descrito como um Donald Trump com um pint de cerveja na mão – nutre-se da profunda insatisfação dos eleitores com os políticos tradicionais. 

Como em boa parte das democracias ocidentais, as principais queixas da população são o alto custo de vida, o crescimento econômico fraco, a sensação de insegurança e a imigração excessiva.

Em sua plataforma, o Reform defende sem meias palavras contenção de gastos públicos, diminuição de impostos, restrições à entrada de imigrantes e fim de incentivos para a redução de emissão de carbono. É, basicamente, o avesso do programa dos trabalhistas.  

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Numa entrevista à Economist na semana passada, Starmer afirmou que seu governo é “a última chance para o centro” e que as propostas do Reform UK podem “destruir o país.”

A receita trabalhista de mais gastos e mais impostos, contudo, não tem convencido os eleitores.

“É o governo mais à esquerda em cinco décadas,” disse a Economist em um artigo recente, comentando o Orçamento para 2026 apresentado pela chanceler do Exchequer (a ministra das Finanças), Rachel Reeves.

“A Sra. Reeves aumentou os impostos mais do que qualquer outro ministro das Finanças em várias décadas. Ela também lançou um pacote de gastos gigantesco,” escreveu a revista. “Em dois orçamentos, a Sra. Reeves aumentou os impostos em quase £ 70 bilhões (2% do PIB). Ao mesmo tempo, prometeu cerca de £ 80 bilhões em gastos extras. O partido do ‘taxar e gastar’ taxou e gastou.”

O plano de Reeves deverá elevar a carga tributária para 38% do PIB – o maior patamar jamais registrado no país. Haverá aumento de tributos sobre dividendos, renda, propriedades, apostas… A lista é longa – e não muito diferente do que o Governo Lula tem feito (em grande parte com apoio do Congresso).

Com o Reino Unido sofrendo uma fuga de milionários depois do fim das isenções oferecidas aos chamados non-doms, a carga extra de impostos recairá sobretudo no lombo da classe média.

Uma das principais estratégias para elevar a arrecadação será não corrigir as faixas da tabela do Imposto de Renda. Sounds familiar?

A próxima eleição geral para o Parlamento deve ocorrer em 2029 – mas a baixa popularidade dos trabalhistas pode levar a um voto de desconfiança bem antes, colocando em risco a sobrevivência do Governo Starmer.

Um termômetro será as eleições locais, em maio, quando haverá a escolha dos conselheiros municipais (similares aos vereadores brasileiros). O Reform UK aparece na dianteira em diversos distritos, e uma derrota esmagadora dos trabalhistas muito provavelmente deixará o primeiro-ministro em situação delicada.

Starmer vem perdendo apoio dentro de seu próprio partido, com integrantes do Labour afirmando abertamente que o resultado de maio determinará se ele seguirá como o líder trabalhista no Parlamento ou não.

Segundo o Financial Times, Farage já vem negociando um acordo com os Tories para a próxima eleição geral – o que envolveria até mesmo uma fusão do Reform UK com o Partido Conservador.