O CEO da BRF, Pedro Faria, vai deixar o cargo em 31 de dezembro, dando fim a um mandato de três anos durante o qual a empresa viu seu valor de mercado despencar em meio ao que seus principais acionistas chamam de ‘uma tempestade perfeita.’
O conselho da BRF agora vai começar a busca por um novo CEO, e Faria ficará no cargo até o fim da transição.
A substituição de Faria — depois de um processo de desgaste junto aos fundos de pensão que também são acionistas da empresa — vem no quinto ano do projeto da Tarpon de transformar a dona das marcas Sadia e Perdigão de uma empresa de commodities em uma prateleira de marcas de consumo com mais valor agregado.
Para tomar o controle da companhia e implementar sua estratégia, a Tarpon na época se aliou a outros acionistas para derrubar o então CEO Nildemar Secches, venerado pelo mercado em parte por haver salvado tanto a Perdigão quanto a BRF da bancarrota em momentos distintos. Também como parte do projeto da Tarpon, o empresário Abilio Diniz tornou-se um minoritário relevante e chairman da companhia em abril de 2013.
Imediatemente, a dupla Tarpon/Abilio atacou a gordura. Abilio trouxe o consultor Claudio Galeazzi, que em pouco tempo demitiu 20% do pessoal administrativo, sete vice-presidentes, 40 diretores e um total de mais de 2 mil funcionários. A BRF fechou fábricas e vendeu seus negócios de carne bovina e lácteos.
Mas no meio do caminho havia o preço do milho, uma recessão épica que afastou os consumidores de marcas premium (o forte da BRF), e um concorrente agressivo — a JBS Foods — com recursos aparentemente ilimitados e que contratou boa parte do capital humano que a BRF dispensou.
A ação da BRF terminou 2015 a R$ 55, fechou 2016 a R$ 46, e bateu R$ 36 em março deste ano, em meio à histeria da Operação Carne Fraca. Hoje, fechou a R$ 42,5.
Agora à tarde, numa carta tão longa quanto carinhosa, Abilio chamou Faria de “um amigo e uma pessoa admirável” e disse que a BRF vai realizar “uma transição completa, tranquila e sem sobressaltos.”
O envolvimento de Faria com a BRF precede seu mandato de CEO. Ele foi membro do conselho de administração de abril de 2011 a novembro de 2013. Deixou a posição para se tornar CEO Internacional da companhia, e em janeiro de 2015 tornou-se CEO Global.
Faria — um ex-banqueiro que passou pelo Chase e pelo Banco Patrimônio antes de se tornar sócio da Tarpon — deve voltar a trabalhar na gestora no ano que vem.
A saída vem num momento em que dados da Nielsen indicam que a BRF recuperou share em diversas categorias no bimestre junho/julho.