A BR Distribuidora convidou Wilson Ferreira Júnior para ser seu CEO, substituindo Rafael Grisolia, que fica no cargo até o dia 31 deste mês, pessoas próximas ao conselho disseram ao Brazil Journal.

O convite, que foi aceito, deve colocar no cargo um executivo amplamente respeitado que estava há quatro anos preparando a privatização da Eletrobras, que agora parece praticamente sepultada durante o Governo Bolsonaro.

A notícia da saída de Wilson fez o ADR da Eletrobras negociar em queda de 11% no pre market de Nova York agora de manhã, com a B3 fechada para um feriado municipal.

Mas como a tragédia de uns é o sonho realizado de outros, a contratação de Wilson deve esquentar a demanda pelos 37,5% que a Petrobras ainda detém no capital da BR, e que a estatal pretende vender ainda este ano.

A ação da BR fechou sexta-feira a R$ 20,90, dando à companhia um valor de mercado de R$ 24,35 bilhões.

A contratação de Wilson está condicionada à aprovação pela Comissão de Ética Pública, já que ele hoje comanda uma estatal. A comissão já foi consultada e deve responder nos próximos dias sobre a necessidade ou não de uma quarentena.

Na gestão Grisolia, a BR voltou a ser minimamente competitiva depois de anos perdendo market share para a Raízen, Ipiranga e centenas de concorrentes menores, num mercado ainda marcado por fraudes e sonegação fiscal.

A BR perdeu mais de 10 pontos de participação de mercado em sete anos até o IPO de 2017 privatizar a empresa e mudar a gestão.  Hoje, a companhia tem 26% do mercado, quando já teve 35,5%.

Depois de corrigir os erros do passado, o conselho está debruçado sobre o futuro, e para isso resolveu que precisava de uma nova liderança, com escopo maior.

No ano passado, o conselho da BR contratou a Egon Zehnder para uma avaliação do CEO e do próprio conselho. O trabalho foi concluído em maio, e em agosto o conselho decidiu pela troca do CEO. 

Segundo pessoas familiarizadas com as deliberações do conselho, Wilson foi o nome favorito desde o início.

Primeiro, porque o executivo já se provou mais de uma vez em processos de transformação cultural profunda, ajudando estatais a se tornar empresas privadas altamente competitivas e rentáveis.

Segundo, em vez de um nome vindo do setor de combustíveis, o conselho acredita que Wilson terá uma visão mais ampla em relação às potencialidades econômicas da BR — particularmente em verticais como energia, mobilidade e conveniência.

A estratégia do board é preparar a BR para continuar crescendo mesmo depois do declínio dos combustíveis fósseis.

“Todo mundo reconhece que os fósseis estão num final de ciclo, ainda que ninguém saiba quando começa o declínio,” disse uma fonte. “Mas já precisam preparar a companhia para continuar crescendo mesmo depois disso.”

O board está convencido de que é preciso “construir uma empresa nova, com pelo menos o mesmo tamanho da BR, antes que o negócio principal decline,” segundo essas fontes. 

Enquanto os concorrentes estão fazendo ofertas pelas refinarias, a BR vê essa estratégia como “investir no passado”.

“Para gastar R$ 6 bi, o board prefere investir no futuro.”