A Totvs acaba de fechar a compra da Linx, concordando em pagar R$ 3,05 bilhões à Stone e colocando fim a um processo que começou há um ano.
A venda saiu a um múltiplo de 20 vezes o lucro estimado da Linx para este ano, de R$ 160 milhões.
A transação é altamente accretive para a Stone, que negocia a 7x seu lucro estimado para 2026, enquanto a Totvs negocia a 22x.
O enterprise value da transação foi de R$ 3,41 bilhões, considerando que a Linx tinha um caixa líquido de R$ 360 milhões, que será retido pela Stone. Todo o caixa que a Linx gerar até o closing da operação também ficará com a vendedora.
Segundo uma fonte próxima à Stone, o melhor múltiplo para se analisar a transação é o EV/caixa gerado (o EBITDA menos o capex) – um múltiplo muito usado no setor de software. Por esta métrica, a transação saiu a 20x, em comparação aos 23x que a Totvs negocia na Bolsa.
Para o tamanho da Stone, a venda é relevante, representando cerca de 15% de seu market cap de R$ 20 bilhões. O papel subiu 66% desde o início do ano, mas está no zero a zero nos últimos 12 meses.
“É uma transação que faz sentido para as duas empresas,” o analista de uma gestora comprada em Stone disse ao Brazil Journal. “A Stone está vendendo a um múltiplo bem acima do seu, e vai poder usar o valor para remunerar seus acionistas, enquanto a Totvs comprou abaixo do múltiplo que negocia, então também foi accretive.”
Uma dúvida que existia no mercado era se a Stone venderia apenas a Linx ou incluiria no pacote outros ativos de software que tem.
Na transação de hoje, o único ativo negociado foi a Linx, mas em junho a Stone já havia vendido a SimplesVet para a PetLove por outros R$ 140 milhões.
Os demais ativos de software da Stone – incluindo o Reclame Aqui e a Questor, um software para escritórios de contabilidade – fazem uma receita anual somada de R$ 326 milhões, com um EBITDA de R$ 32 milhões.
A fonte próxima à Stone disse que a companhia agora vai começar a avaliar o que fazer com esses ativos.
“Eles vão começar a entender quais dessas empresas se encaixam dentro da Stone e em quais casos vale a pena fazer uma saída,” disse a fonte.
Outra dúvida entre investidores era se a Stone negociaria com a Totvs a manutenção do contrato de integração de suas maquininhas e serviços financeiros com o software da Linx – garantindo que a Stone não perca o share que conquistou nos últimos anos dentro da base de clientes da Linx.
A fonte disse que isso não foi negociado e que a parceria não será mantida. “Não houve nada nesse sentido. A parceria com a Linx vai ser uma disputa aberta no mercado.”
A Stone decidiu vender o ativo no ano passado depois de constatar que a integração da Linx com sua operação de serviços financeiros era mais complexa do que se imaginava quando a aquisição foi feita.
Hoje as duas empresas têm apenas uma integração de backoffice — mas na parte de atendimentos, vendas e sistemas, nada havia sido feito.
O processo de venda começou em setembro e atraiu diversos players, incluindo gestoras de private equity e empresas globais de software. Em fevereiro, no entanto, a Stone suspendeu o processo alegando que não havia encontrado interessados no preço desejado. Em abril, a Linx e a Totvs retomaram as conversas em caráter de exclusividade.
Segundo a fonte próxima à Stone, os recursos da venda devem ser destinados a recompras e dividendos, dado que a companhia tem excesso de capital.
“Naturalmente, quando ocorrer o closing e os recursos entrarem eles vão avaliar se há alguma opção estratégica. Mas se não houver nada, a ideia vai ser manter a política de remuneração dos acionistas.”
JP Morgan, Morgan Stanley e BTG Pactual assessoraram a Stone
Itaú BBA assessorou a Totvs.