O conselho da UnitedHealth Group (UHG) acaba de aprovar a venda da Amil para o empresário José Seripieri Filho, o Júnior, por R$ 11 bilhões, numa reviravolta espetacular que marca o retorno do fundador da Qualicorp ao mercado de saúde.
O preço da transação inclui R$ 2 bilhões em equity e a assunção de passivos de R$ 9 bilhões. O empresário já alinhou financiamento com o Santander Brasil, que lhe concedeu uma linha de crédito de R$ 1 bi, além de Bradesco, BTG Pactual e BR Partners.
Este é o maior M&A feito por uma pessoa física sozinha na história do Brasil. Júnior estava competindo pelo ativo com a Bain Capital, que pretendia tentar replicar com a Amil o sucesso que teve com a NotreDame Intermédica; players como a Coruja Capital, do ex-chefe da área de varejo do Itaú, Marcio Schettini; e, na reta final, com o empresário Nelson Tanure, o investidor de referência em empresas como Prio, Ligga Telecom, Gafisa e Light.
Como Júnior não tem investimentos no setor de saúde, a aprovação do CADE tende a ser rápida, segundo advogados do meio. Além disso, o empresário tem um trânsito histórico na Agência Nacional de Saúde (ANS), que também precisa aprovar a operação.
“A UHG escolheu o caminho mais rápido: eles tinham propostas mais altas mas que exigiam diligências e aprovações regulatórias mais longas,” disse uma fonte que participou do processo. “O Júnior aceitou assumir todos os riscos do negócio, o que permitiu à UHG uma saída clean.”
O mais difícil começa agora.
Na Amil, Júnior encontrará uma empresa sangrando, tocada no dia a dia por executivos que vivem distantes do olhar do controlador, e com agilidade reduzida por estruturas internas que seguem as práticas exigidas pela UHG.
Apesar de sua escala e share relevante num mercado de saúde cada vez mais concentrado, a companhia tem dado prejuízo nos últimos anos, em boa parte graças a seu estoque de planos individuais, que se tornaram um câncer para a indústria de saúde depois que o regulador passou a limitar os reajustes de preço.
Fundada por Edson de Godoy Bueno, um empreendedor visionário que morreu em 2017, a Amil é um colosso de 31 hospitais – incluindo hospitais de referência como o Hospital Samaritano de São Paulo e o Americas Medical City no Rio – 3,1 milhões de clientes nos planos de saúde (350 mil no plano individual) e 2,3 milhões no plano odontológico, além de operações de oncologia e oftalmologia.
A Amil faturou R$ 26,3 bilhões ano passado, tem um patrimônio líquido de R$ 16 bilhões e R$ 8,5 bi no caixa, mas Júnior terá o desafio de reverter um EBITDA negativo na casa de R$ 2 bilhões.
Depois de construir a Amil em parceria com sua mulher, Dulce Pugliese, Edson vendeu a companhia para a UnitedHealth em 2012, no topo do mercado, por US$ 4,9 bilhões, tornando-se o maior acionista individual da UHG, com pouco menos de 1% da companhia.
Frequentemente lembrado na imprensa por sua amizade com o Presidente Lula, a quem visitou inúmeras vezes na prisão em Curitiba, Júnior usou seu Gulfstream 600 para levar o então presidente-eleito à COP27 no Egito – um vôo non-stop São Paulo-Cairo.
Profundo conhecedor do setor de saúde e dono de um temperamento explosivo, Júnior é um self-made man que superou uma gagueira paralisante – que praticamente o impediu de falar entre 9 e 20 anos de idade – para se tornar um vendedor extraordinário e em seguida fazer fortuna com a fundação, o IPO e a venda da Qualicorp.
O empresário começou sua carreira como escrivão da Polícia Civil de São Paulo, trabalhou como ‘pastinha’ da Golden Cross e mais tarde inventou os planos coletivos por adesão, o coração da Qualicorp.
Sobre isso, o empresário disse certa vez numa palestra: “Eu peguei essa veia e fui nela enquanto o mercado todo caminhava para o plano individual. Mais adiante, em 2004, vem o Estatuto do Idoso, e as operadoras resolveram tirar os planos individuais do mercado. E aí é um pouco de sorte do destino: a gente estava no lugar certo na hora certa, porque a gente já vinha caminhando desde lá de trás com os planos de afinidade.”
Agora, com a Amil, a sorte parece lhe sorrir de novo.
O BTG Pactual foi o assessor exclusivo da UHG, que trabalhou com o Sullivan & Cromwell, Pinheiro Neto e Lefosse Advogados.
O BR Partners foi o assessor financeiro exclusivo de Júnior, que teve legal counsel do Arnold & Porter, Spinelli Advogados e Bichara Advogados.