A Eneva fez uma nova proposta de fusão com a AES Tietê, melhorando sua oferta anterior e tentando alargar a porta de saída do BNDES, dono de 28% do capital da empresa.
Na oferta enviada agora à tarde, a Eneva está propondo pagar 10% do valor em dinheiro — R$ 728 milhões — e 90% numa troca de ações que faria a companhia termoelétrica emitir 130,5 milhões de novas ações. Se o BNDES aceitar a oferta, ela será estendida a todos os acionistas da Tietê, que então darão a palavra final na criação de um gigante do setor elétrico com R$ 23 bilhões em valor de mercado.
A valores do fechamento de hoje, a nova proposta avalia cada unit da AES Tietê em R$ 18,88, um prêmio de 10% sobre o fechamento de hoje e 12,85% acima da oferta anterior.
Trata-se do maior valor nominal já atingido pela ação da Tietê.
Os atuais acionistas da Eneva passariam a deter 70% da nova companhia, com os atuais acionistas da Tietê ficando com o saldo. Na ‘nova Eneva’, a Cambuhy, veículo de investimento dos Moreira Salles, e o BTG Pactual ficariam com 16% cada. Os três maiores acionistas do float — Atmos, Dynamo e VELT Partners — somariam juntos cerca de 10%.
A atual controladora da Tietê, a AES Corp., ficaria com 7%; o BNDES, 8,3%; e a Eletrobras, 2,3%.
A nova oferta da Eneva chega no deadline dado pelo BNDES para receber propostas por sua fatia na geradora, um processo coordenado pelo Banco BR Partners. Ainda assim, o aumento da fatia de equity na composição da oferta pode ir contra os objetivos do banco de desenvolvimento, que busca uma saída mais rápida.
Numa conversa com o Brazil Journal, o CEO Pedro Zinner e o CFO Marcelo Habibe disseram que a nova proposta é melhor que a anterior porque a Eneva identificou mais sinergias e está disposta a dividir uma fatia maior de seu crescimento futuro com os acionistas da Tietê.
Na proposta original, submetida em março, a Eneva propunha pagar 40% do valor em dinheiro e apenas 60% em ações.
Mas os executivos disseram que, se a proposta for recusada pelo BNDES, a Eneva não buscará outros caminhos para uma fusão com a Tietê. “Agora chegamos na encruzilhada: ou vai ou racha,” disse Habibe.
“Lemos hoje uma nota na imprensa dizendo que a AES Tietê está se preparando para uma guerra,” disse Zinner. “Do nosso lado, a gente não quer guerra com ninguém, queremos só combinar os ativos e gerar valor para todos os lados.”
Apesar de não querer guerra, Zinner disse que a Tietê e a AES Corp. não praticam o que dizem quando o tema é ESG — mais particularmente no quesito ‘governança’.
Como exemplo, ele lembrou que o incentivo de longo prazo dos executivos da Tietê é 100% baseado na performance da AES Corp., e não da própria Tietê.
Ao criar o argumento jurídico de que os minoritários não poderiam decidir sobre a proposta de incorporação anterior, Zinner disse que a AES “tentou privar os detentores de PNs do direito de voto garantido pelo estatuto e pelo regulamento do Nível 2 da B3.”
Dias depois, a tese jurídica da AES Corp foi contestada pela B3, que reafirmou o direito de voto dos detentores de PNs.
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