Substituição na representação brasileira no Fundo Monetário Internacional: sai o ‘ortodoxo’ Afonso Bevilaqua, entra o ‘desenvolvimentista’ André Roncaglia.

A substituição era dada como certa desde o ano passado. Lula e Fernando Haddad queriam indicar um nome mais alinhado ao seu projeto de reforma na governança do FMI e outras instituições multilaterais.

Além disso, Bevilaqua já havia sido alvo no ano passado de críticas desferidas pelo então presidente da Argentina, Alberto Fernández. As queixas diziam respeito à suposta falta de contribuição do representante brasileiro nas negociações do FMI e chegaram aos ouvidos de Lula.

Em uma reunião no Planalto em maio do ano passado, Fernández pediu a Lula ajuda para que o FMI “tirasse a faca” do pescoço da Argentina.

O FMI tem 24 diretores-executivos, cada um deles responsável pelas atividades da instituição em um determinado grupo de países.

O Brasil representa atualmente Cabo Verde, República Dominicana, Equador, Guiana, Haiti, Nicarágua, Panamá, Suriname, Timor Leste, Trinidad e Tobago, além do próprio Brasil.

Roncaglia fez graduação e mestrado em Economia na PUC-SP. Em seguida fez o doutorado na FEA-USP, defendendo em 2015 a tese A evolução do conceito de inércia inflacionária no Brasil.

O economista foi professor na Unifesp e atualmente dá aula na UnB, além de ser pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV-Ibre).

Em suas colunas na Folha e na Carta Capital, tem sido um crítico da privatização da Sabesp e do ‘conservadorismo’ do BC nos juros.

Em um texto recente na Folha, escreveu que “precisamos construir um novo arranjo internacional que empodere política e financeiramente o Sul Global.”

A reforma do FMI faz parte da agenda do Ministro Haddad nas discussões do G20, atualmente presidido pelo Brasil.

Bevilaqua vinha ocupando o cargo desde 2019, sucedendo Alexandre Tombini, o ex-presidente do BC brasileiro, que foi para o Bank for International Settlements (BIS).

Coincidentemente, Bevilaqua já havia passado pela fritura de petistas no primeiro Governo Lula.

O economista foi o diretor de política monetária do BC entre 2003 e 2007, na gestão de Henrique Meirelles, e era apontado como a voz mais conservadora dentro do Copom.

Com doutorado na Universidade da Califórnia em Berkeley e passagens pelo Banco Mundial e pelo BID, Bevilaqua foi por muitos anos professor da PUC-RJ, onde fez mestrado.