Ser um “top performer” está cada vez mais difícil.

Em 1935, uma empresa permanecia por quase 90 anos no ranking do S&P 500 — mas desde 2015, esse tempo caiu para apenas 15 anos.

 
Nossos estudos mostram que as empresas que continuaram entre as “top performers” tiveram a habilidade de se transformar e abraçar as mudanças rapidamente. Com isso, saúde organizacional tornou-se um ativo tão relevante quanto capital para elas.

Para entender melhor como as empresas fazem isso, acabamos de lançar, pela segunda vez no Brasil, o Índice de Saúde Organizacional, com base em uma pesquisa global da McKinsey. Entrevistamos mais de 170 mil funcionários de 80 organizações brasileiras, que representam 18 setores da economia, turbinando a análise com algoritmos de advanced analytics. 

Como resultado, descobrimos que devemos quebrar oito mitos sobre gestão de talentos nas organizações do país.

Mito 1: Capital financeiro é mais importante que capital humano

Talento é menos crítico do que capital para a maioria das empresas brasileiras  – somente 35% dos respondentes da pesquisa no país caracterizam talento como mais importante, enquanto esse índice chega a 74% na América do Norte, 72% na Europa e 58% na Ásia. Apesar disso, ao conversarmos com CEOs, descobrimos que 45% dos projetos falham por falta das pessoas necessárias para entregar a estratégia.

Mito 2: Inovação acontece fora do Brasil

 
As companhias brasileiras são mais inovadoras do que no resto no mundo – o país está seis pontos acima da média global no assunto em uma escala de zero a cem. Isso significa que elas são capazes de se adaptar efetivamente às mudanças no contexto externo, buscar novas e melhores maneiras de fazer suas atividades e realizar as transformações necessárias para continuar competitivas.

Mito 3: Para inovar, precisamos ser gênios

 
Não é preciso reinventar a roda. Ser inovador está atrelado a melhorar os processos existentes e dar direcionamentos claros para sua equipe. Além disso, as empresas mais saudáveis e inovadoras acompanham movimentos dos concorrentes e encorajam seus próprios funcionários a entregar mais do que eles acreditam ser capazes.
 
Mito 4: O brasileiro é motivado por natureza
 
Comparando os resultados do Índice de Saúde Organizacional, as empresas pouco avançaram de 2018 para cá em ações desenvolvidas com o objetivo de motivar seus funcionários — estamos oito pontos abaixo da média global. Comentamos o tema em artigo publicado neste mesmo site, o que nos leva ao próximo mito.

Mito 5: O que motiva funcionário é dinheiro no bolso

 
Existem empresas com altos benefícios financeiros e baixa saúde organizacional, enquanto outras companhias remuneram menos, mas têm saúde mais elevada. As empresas saudáveis se diferenciam por promover autonomia (sentimento de dono), transparência de desempenho com ênfase em resultados e conquistas, e ter lideranças desafiadoras, que estimulam entregas de alto nível, mas também entendem que errar faz parte do processo.

Mito 6: Minha estratégia é clara para todos

 
As organizações saudáveis têm estratégia clara e se preocupam em comunicar isso para a organização, ao mesmo tempo que focam também em gestão de riscos.  Por outro lado, empresas menos saudáveis gastam maior tempo “apagando incêndios” do que tornando sua estratégia transparente para seus funcionários.

Mito 7: O “jeitinho brasileiro” faz a diferença

 
O equilíbrio entre inovação e disciplina operacional é o principal fator de sucesso das empresas brasileiras com maior saúde organizacional. Ou seja, ser criativo é importante, desde que você tenha padrões claros de desempenho e comportamento, com monitoramento rígido dessas metas.

Mito 8: Roupa suja se lava em casa

 
Usamos nossa ferramenta Peoplescan, baseada em advanced analytics, para analisar 19 mil perfis de funcionários online e 3 mil avaliações em sites especializados de duas empresas do mesmo setor, uma com alto índice de saúde organizacional e outra com um baixo índice. 

As organizações estão expostas em vitrines: companhias saudáveis são publicamente percebidas como ambientes que oferecem maior oportunidade de progressão de carreira, lideranças inspiradoras e melhores remuneração e benefícios. Isso significa que é preciso investir tempo da liderança e ter comprometimento visível com o tema.
 
Mais do que nunca, os líderes estão pressionados para que mudanças em larga escala aconteçam, de forma integrada e sustentável.  A lição é que, ao colocar saúde organizacional no mesmo nível de prioridade em relação à performance financeira, os CEOs conseguem até dobrar seus resultados financeiros. 

Björn Hagemann é sócio sênior da McKinsey e lidera a prática de Organização na América Latina; Anita Baggio é sócia associada e Gustavo de Oliveira é especialista sênior da McKinsey. 

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