Os eleitores de mais de 80 países — que representam mais de 60% do PIB global e 50% da população mundial — devem comparecer às urnas em algum momento de 2024.

Diante da incerteza política, os investidores tendem a experimentar uma maior sensação de inquietação, embora nem todas as eleições tenham a mesma relevância para o horizonte de investimentos.

Chart PTBR

Neste contexto, é preciso entender quais aspectos das disputas presidenciais podem influenciar este ano. Em nossa visão, os quatro pontos abaixo são assuntos para ficar de olho:

1. O que está em jogo? Eleições locais geralmente não são tão relevantes para os portfólios quanto as eleições presidenciais ou gerais.

2. Quão acirrada é a disputa? Uma disputa acirrada costuma gerar mais ansiedade do que uma disputa menos competitiva. Mesmo que os investidores não gostem de um candidato que tenha alta probabilidade de vitória, ter a visibilidade do possível resultado ajuda a se preparar com antecedência.

3. Qual é o grau de resistência do processo democrático? Globalmente, os direitos políticos e as liberdades civis diminuíram pelo 17º ano consecutivo em 2023, de acordo com a Freedom House. Para os investidores, o fato de saber que um país tem regras eleitorais claras e as cumpre traz um grau de confiança no resultado de uma eleição.

4. Qual a importância da eleição para os mercados globais? Os Estados Unidos representam mais de 60% da capitalização do mercado acionário global, e a Índia cresceu e se tornou a quinta maior economia do mundo. O tamanho do mercado financeiro de um país e sua participação no PIB global são apenas duas variáveis que podem ajudar a avaliar o impacto de eleições locais nos portfólios de investimento.

Estados Unidos: O grande embate

Ao considerar todas essas questões, fica claro para nós que as eleições dos EUA em novembro são as mais importantes para os investidores acompanharem, principalmente porque o presidente em exercício tem um alto grau de autonomia para moldar as relações exteriores e a segurança nacional do país.

México: As maiores eleições da história

A votação de 2 de junho no México também é relevante, uma vez que deve ser a maior da história do país. Além de escolher um presidente, o eleitorado vai eleger um total impressionante de cerca de 20 mil servidores. A corrida presidencial parece não ser competitiva (até o momento em que este artigo foi escrito), com a candidata líder detendo 64% da preferência dos eleitores.

Na perspectiva do investidor, os principais pontos a serem observados são o papel do Estado e o investimento privado no setor de energia, assim como a forma como o próximo governo planeja enfrentar os desafios da consolidação fiscal.

Nesse contexto, os ativos mexicanos, incluindo o peso mexicano, devem permanecer bem sustentados.

Índia: Crescimento do PIB e dos lucros assumem o protagonismo

As últimas pesquisas sobre as eleições nacionais do país indicam um forte apoio a um terceiro mandato do primeiro-ministro, Narendra Modi, e sua coalizão. É provável que o foco de seu governo se mantenha no aumento da produtividade, por meio de reformas econômicas, e na transformação da Índia em uma potência manufatureira.

Embora a empolgação com as eleições seja bastante alta, o forte crescimento do PIB e dos lucros devem continuar a sustentar as ações indianas.

Brasil: Ainda é cedo para dizer

Naturalmente, o Brasil também realizará eleições municipais em outubro. Embora o impacto dessa corrida eleitoral sobre os investimentos pareça mais limitado, é importante acompanhar os resultados para desenhar os caminhos possíveis para as eleições gerais, em 2026.

Enquanto isso, os investidores podem aproveitar a relativa estabilidade do real brasileiro para se beneficiar da rentabilidade proporcionada pelas taxas de juros no País. Além disso, também vemos oportunidades nos títulos de dívida corporativa brasileira. Os emissores que cobrimos geralmente têm balanços patrimoniais líquidos com relativamente pouca dívida a vencer nos próximos meses e equipes de gestão muito profissionais.

Implicações para as carteiras

É importante que os investidores tenham em mente que a construção de um portfólio de longo prazo deve ser tratada como um exercício apolítico. Pesquisas acadêmicas também demonstraram que as tendências políticas pessoais dos investidores e o desempenho eleitoral do candidato ou partido de preferência afetam diretamente o nível de otimismo ou pessimismo em relação à economia e aos mercados.

Além disso, em um mundo no qual os mapas políticos e geopolíticos estão sendo redesenhados, a diversificação geográfica dos portfólios torna-se mais importante do que nunca. Os retornos dos ativos fora das ações de grande capitalização dos EUA não foram tão fortes nos últimos anos. No entanto, acreditamos que uma combinação de ativos em mercados emergentes e na Europa continua sendo um componente essencial dos portfólios, considerando os valuations relativamente baixos.

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Acompanhe os relatórios detalhados do ElectionWatch para ficar por dentro das análises sobre as próximas eleições, além de obter mais informações na nossa série de vídeos ‘Road to the Election.’ Aproveite também para se aprofundar no cenário de investimentos do México com nossa série Investing in Mexico. E para comentários e análises em português, escute e assista aos episódios mensais de nosso podcast Latam Access, disponível na Apple e no Spotify.

Alejo Czerwonko é CIO de emerging markets americas do UBS.

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