Dois anos atrás, a Valid se debatia entre uma série de problemas: a alavancagem estava em 3,6x, a companhia havia perdido eficiência – com margens aquém do ideal – e muitos investidores questionavam o futuro de seu core business.

Um novo management assumiu o comando, boa parte do C-Level foi trocado, e agora, a companhia que produz mais de 60% das CNHs e RGs do Brasil – além de chips de celular e cartões de crédito – parece ter terminado sua lição de casa.

A alavancagem despencou para 1,1x (e deve fechar o ano em menos de 1x), e a margem EBITDA está crescendo em todas as três verticais do negócio.

Em cartões, a margem saltou de 9% para 17%.

Em identidade, foi de 24% para 30%.

E em telecom, de 24% para 26%.

Boa parte do ganho brutal de eficiência veio do enxugamento da estrutura fabril.

A Valid operava com três fábricas, em Sorocaba, São Bernardo do Campo e no Rio de Janeiro. Decidiu fechar duas delas e concentrar a produção apenas em Sorocaba, que tinha capacidade ociosa.

A operação também teve um makeover — tanto do ponto de vista de verticais de negócios quanto de exposição geográfica.

“No passado, naquela pressão de fazer a transformação digital, a empresa investiu em ativos fora do core e que não geraram o valor esperado,” disse Ilson Bressan, o diretor-executivo da Valid. “Tinha também uma confusão grande sobre os mercados em que a companhia deveria operar.”

Nos últimos meses, a Valid já fez o writeoff de dois desses investimentos (a fintech BluPay e a Agrotopus), e simplificou sua estrutura, dividindo o negócio em apenas três verticais — Valid Pay (impressão de cartões e soluções de pagamento), Valid ID (produção de RGs e CNHs, e soluções de identificação digital) e Valid Mobile (fabricação de chips de smartphone e soluções de conectividade).

A operação nos Estados Unidos — que fabricava cartões para grandes bancos e carteiras de motoristas para dois estados — também foi vendida.

Essa operação tinha um market share muito pequeno, e a venda vai ajudar a Valid a se desalavancar ainda mais, permitindo focar seus esforços em seu mercado prioritário, a América Latina.

“Muitos desses movimentos de expansão foram feitos na base do FOMO [fear of missing out],” disse Ilson. “Agora estamos muito mais focados em transformar o negócio core com o uso de tecnologia.”

Todos os negócios da Valid estão passando por transformações — mas o grau varia em cada vertical.

Segundo Ilson, o mobile é onde o processo está mais acelerado, e onde a disrupção será maior com a transição do chip físico para o chamado e-SIM (uma espécie de chip digital embutido que vai conectar as informações do cliente com fabricante e operadora).

A demanda ainda é pequena, mas a Valid já tem uma plataforma eletrônica para fornecer o e-SIM.

Em ID, o físico e o digital devem conviver juntos por um bom tempo. “Não há nenhum país em que a identidade seja só digital, nem mesmo na Estônia,” disse o executivo.

Já nos cartões, o terreno ainda não está claro. “Temos que entender se a cultura do Brasil é realmente parecida com a da China, onde eles praticamente só usam o WeChat e QR Code para pagamentos,” disse Ilson.

Por enquanto, o plástico ainda tem muito apelo, porque permite que as fintechs e bancos exponham sua marca.

A história da Valid é, de certa forma, a história da disrupção.

Desde sua fundação 65 anos atrás, a companhia teve que se transformar diversas vezes. “Já imprimimos cartões telefônicos, cartões com chip e sempre nos adaptamos às mudanças,” disse o executivo. “Com o digital não vai ser diferente.”

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