Depois de dois trimestres que chocaram os investidores e reprecificaram seu valor de mercado, o Bradesco publicou hoje um primeiro trimestre em linha com o consenso.
A despesa operacional e o grupo segurador se comportaram melhor que o esperado – mas o banco ainda sofreu com a inadimplência em alta.
O banco reportou um lucro líquido de R$ 4,28 bilhões, estável em relação ao tri anterior mas ainda 37% abaixo do mesmo tri do ano passado.
O retorno sobre o patrimônio (ROE) foi de 10,6%, com o PL fechando o trimestre em R$ 155 bilhões.
“Os resultados estão dentro das expectativas e do que vínhamos colocando para o mercado: um primeiro e segundo tris ainda desafiadores, mas dentro das nossas previsões,” o CFO Cassiano Scarpelli disse ao Brazil Journal.
O lucro foi impactado por uma reversão de provisões que contribuiu com cerca de R$ 650 milhões para o bottom line. Essa reversão levou a uma queda no chamado índice de cobertura, que saiu de 204% para 182%. Também ajudou a alíquota de imposto, que ficou em 10% no trimestre.
A chamada margem de mercado – que reflete os ganhos do banco com a gestão de seu balanço e trading proprietário – melhorou R$ 500 milhões, mas permaneceu negativa em R$ 300 milhões.
Já a margem de clientes – que mede os ganhos do banco com crédito e captação – melhorou 7,3%. Já a chamada margem financeira total fechou o tri em queda de 2,40%, comparado a um guidance para o ano de +7% a + 11%.
O NPL acima de 90 dias – que mede os créditos que entraram em default no trimestre como proporção da carteira total – cresceu de 1,2% em dezembro para 1,9% no fim de março – sem considerar cessões de carteiras, que foram raras no trimestre depois que a Selic a 13,75% tornou as cessões pouco atrativas.
Já a inadimplência total acima de 90 dias – que mede todos os créditos em default em relação à carteira – passou de 4,3% para 5,1%.
Para reduzir essa inadimplência, o Bradesco está sendo mais conservador na concessão de crédito. No primeiro tri, o banco reduziu em 40% a aprovação de crédito em produtos mais arriscados (basicamente o crédito clean para pessoas físicas e PMEs) – isso depois de já haver reduzido em 15% as concessões desse tipo de crédito no tri anterior.
Segundo Cassiano, isso já tem gerado uma melhora nas novas safras, principalmente nas carteiras de pessoa física, onde o banco já vê “uma melhora significativa” na inadimplência. (A fotografia das PMEs continua desafiadora.)
O CFO reafirmou a expectativa do banco de que o NPL se estabilize e entre em trajetória de queda no segundo tri, “podendo escorregar para o início do terceiro.”
Naturalmente, esse maior conservadorismo não pode durar para sempre, já que ao segurar o crédito o banco está construindo menos margem para o futuro, o que impactará o ROE mais à frente.
Cassiano disse que esta calibragem se tornou uma discussão “quase semanal” no banco.
“Já estamos no segundo mês do segundo trimestre, e entramos nele ainda restritivos. Mas quando tivermos mais clareza sobre o ciclo, e se essas tendências positivas das novas safras se confirmarem, vamos fazer essa reavaliação e ter outro apetite a risco.”
Para responder ao desafio, o Bradesco elevou seu provisionamento total para o maior nível dos últimos dez anos, com o PDD saindo de 8,8% em dezembro para 9,3% no final de março.
O Índice de Basileia nível 1 subiu 0,2 ponto para 12,6%, enquanto a Basileia total cresceu de 14,8% para 15,1%.
Um highlight do trimestre foi a Bradesco Seguros, que entregou um lucro líquido de R$ 1,8 bilhão com ROE de 18,2%. Os prêmios emitidos subiram 13% para R$ 25 bi, e a margem operacional do grupo segurador ficou em 11,7% – acima do guidance para o ano, de 6% a 10%.
Outro ponto forte foi a dinâmica das despesas operacionais, que cresceram 9,3% no trimestre ano contra ano – o piso do guidance para o ano, que vai de 9% a 13% de crescimento – e declinaram 5,2% em comparação ao quarto tri. O comportamento foi sadio particularmente dado o pano de fundo: um IPCA de 8% e um reajuste dos bancários que ficou entre 8% e 10%.
O resultado de hoje ainda não marca o ponto de inflexão que o Bradesco precisa atingir, mas acenam com uma certa estabilização.
O CFO admite que parte do problema teve a ver com um erro de comunicação, que o banco está tentando corrigir.
“Tínhamos sinais conflitantes aqui dentro em relação à inadimplência. O comportamento do cliente estava intermitente: tinha cliente que já tinha pago 24 parcelas e parou de pagar. Havia pouca visibilidade, mas acabamos sendo mais enfáticos do que deveríamos.”