O Carrefour Brasil, cujas ações vinham andando de lado desde a estreia na Bolsa há pouco mais de um mês, teve hoje seu melhor pregão na esteira de um início de cobertura otimista pelo sellside.
 
Os papéis subiram 4,28% para R$ 16,08, com um volume negociado de 8 milhões de ações, quase o dobro da média diária. A ação saiu a R$ 15 na oferta concluída no dia 18 de julho.

Bradesco, Itaú, Santander, JP Morgan e Goldman Sachs divulgaram hoje seus relatórios de início de cobertura – todas as casas faziam parte do consórcio que liderou o IPO. As recomendações são de compra, e o preço-alvo varia de R$ 19 a R$ 21. JP Morgan e Bradesco incluíram a ação como sua ‘top pick’ no varejo de alimentos na América Latina. 
 
O Bradesco encomendou um estudo que conclui haver um enorme potencial para abertura de lojas de atacarejo – o formato que floresceu na crise e que explica boa parte da atratividade da tese do Carrefour, com sua bandeira Atacadão.
 
O analista Richard Cathcard cruzou dados do mercado total de alimentos por Estado e a fatia que é abastecida por cada loja de ‘cash and carry’. Para que todos os Estados cheguem à mesma densidade de São Paulo seria necessário abrir 270 lojas. Ou seja, há espaço para o Atacadão crescer em paralelo aos planos de expansão do Assaí, do Grupo Pão de Açúcar.
 
A premissa ‘conservadora’ do Bradesco é que o Atacadão chegará a 200 lojas em 2021, contra as 135 atuais (o número exclui as unidades que trabalham apenas como atacadistas). “Contudo, em nossa opinião, o Atacadão poderia continuar em um ritmo de abertura de 10 lojas por ano e levar essa conta a 250 em 2026”, escreveu a equipe do banco.

De acordo com o Bradesco, o retorno sobre capital investido (ROIC) na casa dos 20% posiciona a companhia como uma das varejistas mais eficientes do mundo, atrás apenas da Walmex, a filial do Wal-Mart no México. Apesar disso, o Carrefour negocia a um múltiplo de 16 vezes o lucro para 2018, 30% menos que a mexicana.

O JP Morgan estima um desconto de 15% em relação aos pares internacionais. “Em nossa visão, o desconto não é merecido e a ação deve se reprecificar para a média de 19 a 20 vezes do setor na medida em que entregue resultados positivos pós-IPO”, escreveu o analista Joseph Giordano.

A Goldman destacou a produtividade das lojas do Atacadão: a bandeira tem faturamento médio por metro quadrado 17% menor que a do Assaí, mas as lojas, em média, tem o dobro do tamanho, o que compensa a diferença. 

O Carrefour e o GPA têm modelos de operação bem diferentes. Além de ter um braço financeiro, o Carrefour é o dono da maioria das suas lojas, com uma estrutura de ativos fixos muito mais pesada do que p GPA, que normalmente aluga os pontos. 

O Itaú fez uma conta para normalizar a comparação. O Carrefour sai na frente em todas as métricas de retorno — sobre capital investido (ROIC), ativos (ROA) e patrimônio (ROAE) – apesar da margem EBITDA ser menor. O preço-alvo do banco para as ações da companhia é de R$ 20.

As ações do GPA fecharam o pregão de hoje com leve alta de 0,16%.

A principal preocupação de todos os analistas com o Carrefour diz respeito à fadiga do modelo de hipermercados, que vem sendo espremido de um lado pela proposta de preço do atacarejo e, de outro, pela conveniência das lojas de vizinhança. 

“Apesar dos planos de expansão do Carrefour para outros formatos, os hipermercados ainda vão responder por mais uma boa fatia das vendas do varejo nos próximos anos”, disse a equipe do Itaú.

Na semana passada, o BTG promoveu um encontro de investidores com a alta direção do Carrefour e o futuro dos hipermercados apareceu como principal assunto. Na ocasião, o CEO Charles Desmartis refutou as sentenças de morte do formato: segundo ele, a experiência de compra e o grande sortimento de produtos manterá a importância do segmento.