Depois de apoiar a greve dos caminhoneiros — que culminou em novos subsídios e numa conta bilionária a ser paga por todos os brasileiros — Jair Bolsonaro continua gerando dúvidas no mercado sobre se possui as convicções corretas (e a coragem necessária) para conduzir as reformas duras que serão o principal desafio do próximo Governo.

10518 be40975c d3fb 0009 000b b457af136a4cNa sexta-feira, Bolsonaro disse à repórter Vera Magalhães, do Estadão, que não votou a Lei de Diretrizes Orçamentárias porque tinha uma viagem de campanha e precisava ‘se preparar’. O projeto original da LDO continha uma proibição explícita de reajustes para o funcionalismo em 2019; em outras palavras: uma medida impopular junto aos servidores. (A proibição acabou derrubada na votação final.)

“Meu voto não ia fazer nenhuma falta lá. Nenhum deputado ia se indispor com milhões de servidores,” disse. “Quem votasse dessa forma [mantendo a proibição a reajustes] ia ficar com essa marca na testa.” A íntegra da reportagem está aqui.

Também explicou sua ausência falando de seu nível de energia:

“A votação foi até duas horas da madrugada. Tenho 63 anos de idade.”

As declarações são consistentes com o histórico parlamentar do presidenciável, que sempre se mostrou mais próximo do sindicalismo do que do liberalismo de seu principal assessor econômico, Paulo Guedes.

Em maio, Bolsonaro já havia causado desconforto entre os indecisos da Faria Lima ao votar contra o cadastro positivo, uma medida que ajudará a reduzir as taxas de juros aumentando o grau de informação sobre os devedores.

A semana passada também iluminou a visão seletiva do pré-candidato sobre a aplicação da lei.

Em viagem a Marabá, Bolsonaro afirmou que homicídios têm que ser respondidos com “bala”, e não dentro da lei.  Segundo O GLOBO, ele discursou na cidade ao lado de Silvério Fernandes, irmão de um empresário assassinado em maio deste ano por uma suposta disputa de terras.

— Esses marginais que cometeram esse crime não merecem lei, não. Merecem é bala!

O GLOBO também mostrou, numa frase, o clima de ‘já ganhou’ na campanha.

“Bolsonaro chegou no início da tarde a Marabá. No saguão do aeroporto, foi carregado por simpatizantes. … Depois de ser carregado nos braços por apoiadores, Bolsonaro vestiu a faixa presidencial e depois falou ao público.”