A bíblia do liberalismo não está botando fé em Jair Bolsonaro. Para dizer o mínimo.
A revista dedicou a capa de sua edição global ao candidato, a quem chamou de “a mais recente ameaça na América Latina.” E, em editorial, disse que Bolsonaro seria “um presidente desastroso”.
“Os brasileiros devem estar se perguntando se Deus saiu de férias”, diz o editorial. “A economia está um desastre, as finanças públicas pressionadas e a política está podre. A criminalidade está subindo. E sete cidades do Brasil estão entre as 20 mais violentas do mundo.”
Porém, diz a revista, a eleição do “candidato populista de extrema direita” pode piorar ainda mais as coisas. “Seu nome do meio é Messias, aquele que promete salvação. Na verdade, ele é uma ameaça ao Brasil e à América Latina.”
O editorial compara Bolsonaro a outros populistas – à direita ou à esquerda – como Donald Trump nos EUA, Rodrigo Duterte nas Filipinas, Matteo Salvini na Itália, e Andrés Manuel López Obrador, que acaba de ser eleito no México. “Mr. Bolsonaro será uma adição particularmente nefasta ao clube”, podendo “colocar em risco a sobrevivência da democracia no maior país da América Latina”.
A revista britânica diz ainda que Bolsonaro – que se apresenta como um “xerife sem firulas” tem explorado o sentimento de desalento do brasileiro com a política e a corrupção “de forma brilhante”.
“Até os escândalos da Lava Jato, ele era um congressista sem expressão em seu sétimo mandato pelo Rio de Janeiro.” Suas ofensas públicas contra mulheres, gays, quilombolas, falando o que pensa e quebrando tabus, conferiram a ele uma imagem de político “diferente” de seus colegas de Brasília.
A revista diz que a fórmula de conservadorismo social com liberalismo econômico, chancelada pelo economista Paulo Guedes, ampliou o seu apoio.
E que a facada sofrida pelo candidato “só o tornou mais popular, ao mesmo tempo em que o blindou de críticas de oponentes e de questionamentos da mídia”.
O editorial faz um alerta à classe média e à classe alta que está “correndo para os braços de Bolsonaro” por temerem uma vitória de Fernando Haddad do PT. “Eles não deveriam se iludir.”
“Além de seus pensamentos não-liberais, o Sr. Bolsonaro tem uma preocupante admiração por ditaduras.”
Para a revista, a América Latina já foi governada por toda sorte de homens fortes – “a maioria horrendos”. Os brasileiros “não deveriam se deixar seduzir pelo Sr. Bolsonaro — cujo lema pode virar ‘ele torturou, mas fez’, a exemplo do ‘rouba mas faz’.”
“A democracia brasileira é ainda jovem. Mesmo que Bolsonaro não consiga transformar o Brasil em uma ditadura, um flerte com o autoritarismo é preocupante. Os presidentes brasileiros precisam de coalizão no Congresso para aprovar medidas. E o sr. Bolsonaro tem poucos amigos na política. Para governar, ele pode ser levado a degradar a política ainda mais, abrindo o caminho para pessoas ainda piores.”
“Ao invés de cair nas promessas vãs de um político perigoso na esperança de que ele resolva todos os problemas, os brasileiros deveriam se dar conta de que a tarefa de melhorar a democracia e reformar a economia nunca será fácil ou rápida. Foi feito algum progresso — como a proibição de financiamento de campanha por parte das empresas e o congelamento do gasto público. Muitas outras reformas são necessárias. O sr. Bolsonaro não é o homem para fazê-las.”