O Bank of America acha que a Eneva é ‘compra’, com um upside potencial de 41% sobre o preço de tela.
Num email enviado a clientes, o analista Arthur Pereira disse que, ainda que haja questionamentos sobre os fundamentos do setor, a Eneva deve se beneficiar de fatores técnicos positivos.
A expectativa de corte nos juros, que o BofA estima pode começar antes do que o mercado espera, vai beneficiar a Eneva, dada sua alavancagem de 4x EBITDA e 40% da dívida vinculada à Selic.
Este cenário de melhora pode fazer a ação passar por um short squeeze, particularmente num momento em que as vendas a descoberto estão próximas dos highs históricos — equivalente a quase 11 dias de negociação, contra uma média histórica da companhia é 2,1 dias.
“Acreditamos que um alívio nos juros pode impulsionar uma outpeformance de nomes com um short interest mais alto,” escreveu o analista.
O banco disse ainda que vê a Eneva negociando a uma TIR real de 14% com um dos menores custos de capital do setor de utilities, de cerca de 8%, perdendo apenas para a Alupar, que tem uma TIR muito menor, na faixa de 7%.
O comentário do BofA vem dois dias depois do UBS BB dar um downgrade na Eneva para ‘venda’, com um preço-alvo de R$ 10,50 (contra R$ 17 do BofA).
O relatório do UBS BB fez o papel cair mais de 4%.
Um dos pilares do downgrade é o argumento de que, com mais chuvas este ano e a entrada de capacidade vindo da geração éolica e solar, a Eneva não deve ter nenhum despacho este ano, o que pressionaria muito sua receita.
Para quem não acompanha a empresa: a receita das térmicas da Eneva é dividida em duas: uma receita fixa e a receita variável dos despachos emergenciais, que a ONS ordena quando o fornecimento de energia fica apertado.
Mas estes despachos, que constituem 100% da receita variável, têm sido uma parte importante do EBITDA da companhia, ficando entre 35% e 55% da EBITDA nos últimos anos, dependendo das condições hidrológicas. (No ano passado, o despacho despencou para 15% do EBITDA).
O CFO da Eneva, Marcelo Habibe, disse ao Brazil Journal que a novidade, desconsiderada pelo analista, é que a Eneva está substituindo os despachos domésticos por exportações de energia para a Argentina e o Uruguai.
“No ano passado, fizemos R$ 320 milhões de EBITDA de exportação só no inverno. Esse ano, já fizemos exportações em janeiro e abril, e nesse próximo final de semana começa o inverno na Argentina. As temperaturas em Buenos Aires vão cair quase 10 graus. É o momento de voltarmos a exportar pesado.”
Segundo Habibe, nas exportações para Argentina e Uruguai os preços de venda costumam ser 2x maiores que nos despachos domésticos.
O segundo argumento do analista Giuliano Ajeje para o downgrade é que não haverá mais leilões de contratação de capacidade nos próximos anos e, por isso, a Eneva não vai conseguir recontratar as térmicas de Parnaíba I, II e III.
O banco disse que o mercado não está considerando essa possibilidade, “com os investidores não colocando na conta o oversupply de energia e a forte entrada de capacidade renovável.”
Para o CFO da Eneva, a análise do UBS BB vai “completamente contra o que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Ministério têm manifestado.”
“Os reguladores pensam o extremo oposto: dado o grande volume de energia intermitente e térmicas que serão descontratadas até 2028, eles veem necessidade de recontratar 8 GW de capacidade para assegurar o sistema. A última coisa que eles querem é passar pelo erro de 2021 e ter que contratar térmicas em um leilão emergencial pagando mais de R$ 2 mil o MWh.”