A influenciadora digital Bianca Andrade, dona da marca de maquiagem Boca Rosa Beauty, não esconde de ninguém que tem como inspiração Kylie Jenner, a polêmica caçula do clã Kardashian que criou uma marca de cosméticos avaliada em US$ 1,2 bilhão.
Num movimento similar ao da influenciadora americana, que vendeu 51% de sua companhia para a Coty em 2020 por US$ 600 milhões e agora tenta recomprar a marca que fundou, Bianca também quer controle total sobre sua Boca Rosa.
Em outubro, a influenciadora que nasceu na favela da Maré, no Rio de Janeiro, anunciou o fim de uma parceria de cinco anos com a Payot, que fazia a produção, distribuição e venda dos produtos Boca Rosa.
Em 2022, a marca de maquiagem criada em 2018 faturou R$ 180 milhões. No modelo de licenciamento, Bianca ficava com 12% da receita e a Payot com os 88% restantes.
O percentual nos contratos de licenciamento costuma girar em torno de 8% a 10% — no entanto, por ser o rosto da marca, todo o marketing cabia à empresa de Bianca, o que pode consumir até 5% do faturamento total de uma marca.
Ou seja, o arranjo não parecia mais tão vantajoso para a influenciadora, que mais que triplicou seu alcance nas redes sociais desde que a parceria com a Payot começou, saindo de 6 milhões para 19 milhões de seguidores no Instagram.
A partir de 2024, a influenciadora de 29 anos passa a ter controle total da cadeia de produção da Boca Rosa. A produção será feita por uma empresa terceirizada — o mesmo modelo utilizado pela Payot, que fechou sua fábrica em 2017. A marca francesa no Brasil é de propriedade da família Grotkowski desde os anos 60.
“Queria construir a minha cadeia produtiva do zero. Escolher fornecedores, o que eu não podia fazer, trazer inovações e criar um produto de extrema qualidade para o mercado,” Bianca disse ao Brazil Journal.
A expectativa é que a empresa produza 500 mil unidades por mês, o que representa uma ampliação de cerca de 60%.
Com um tíquete médio de cerca de R$ 60, a marca irá relançar toda a sua linha de maquiagem, que tem 60 itens, e planeja chegar a 70 SKUs nesta nova fase.
Bianca pretende também criar uma linha para skin care. A previsão de investimento é de R$ 15 milhões, que serão financiados com o caixa da empresa, assim como todas as mudanças que ocorrem agora na empresa.
Bianca não quer saber de sócios ou investidores, embora já tenha sido sondada para vender sua marca.
“Não creio que vamos precisar de investidores para alcançarmos a nossa meta de faturar R$ 1 bilhão até 2030,” disse Bianca, que teve uma breve participação no BBB em 2020.
A estratégia de se manter stand-alone é vista como peculiar num mercado pautado por parcerias ou aquisições — como ocorreu em 2020 com a compra da marca da influenciadora Nati Vozza pelo grupo Soma.
“Parece ser desafiador internalizar custos como distribuição, insumos importados e escalar o negócio,” diz Vinícius Strano, que cobre varejo no UBS BB.
É fato também que o tamanho do mercado de cosméticos e cuidados pessoais no Brasil — o quarto maior do mundo, com faturamento anual de R$ 138 bilhões — abre espaço para grandes ambições.
Com o fim do contrato da Payot, Bianca está livre agora para ter sua própria plataforma de comércio eletrônico, que deve ser lançada em junho de 2024. A expectativa é que apenas o e-commerce fature no primeiro ano de funcionamento R$ 80 milhões.
Hoje, os principais canais de distribuição são os magazines, farmácias e sites especializados em cosméticos. Bianca também pretende colocar os pés no varejo físico. Duas lojas estão previstas para 2025, uma em São Paulo e outra no Rio.