Do alto de seus US$ 7 trilhões em ativos, a BlackRock disse que vai dar mais peso às mudanças climáticas em sua alocação de capital — um movimento que deve pressionar outras gestoras a adotar a mesma postura e as empresas investidas a se preocupar mais com a questão ambiental.
Em sua carta anual aos CEOs das maiores companhias globais, o chairman da maior gestora do mundo disse que vai evitar investir em empresas com um “alto risco relacionado à sustentabilidade.”
“A conscientização está mudando rapidamente, e acredito que estamos no limite de uma reformulação fundamental das finanças,” escreveu Larry Fink.
“Mesmo que apenas uma fração dos impactos projetados se tornem realidade, a mudança climática será uma crise muito mais estrutural e de longo prazo do que todas que vivemos nos últimos 40 anos. Empresas, investidores e governos precisam se preparar para uma significativa realocação de capital.”
Fink tem sido uma voz ativa em prol de investimentos mais responsáveis, mas parte da indústria e ativistas ambientais vinham acusando a BlackRock de ‘greenwashing’, alegando que boa parte do discurso não tem tem sido colocado em prática.
Na carta publicada ontem, o executivo enumerou alguns passos práticos: disse que a BlackRock vai sair de “certos” investimentos que tenham um alto risco relacionado à sustentabilidade e que a gestora vai lançar novos produtos de investimento que excluam combustíveis fósseis, além de cobrar das empresas mais transparência sobre suas práticas.
De imediato, a gestora se comprometeu a se desfazer de todos os investimentos em combustíveis fósseis — tanto equity quanto dívidas — dentro de seus fundos ativos.
Nos passivos — aqueles que acompanham índices de mercado e respondem por quase dois terços dos recursos sob gestão — o espaço de manobra é mais limitado.
Fink prometeu “tomar várias medidas para levar considerações climáticas a esses fundos; dobrar o número de ETFs com políticas sustentáveis; e pressionar as provedoras de índices a criar versões sustentáveis de seus principais índices da Bolsa.”
“Se 10% dos investidores globais fizerem isso [migrar para investimentos sustentáveis] — ou até 5% — veremos uma realocação de capital massiva. E essa dinâmica vai acelerar ainda mais quando a próxima geração assumir os governos e negócios, com trilhões de dólares indo para as mãos dos millennials”, disse na carta.
Até pouco tempo uma voz dissonante, o discurso de Fink vem ganhando adeptos no mainstream e na chamada ‘velha economia’.
Numa carta publicado ano passado, o Business Roundtable, entidade que reúne 181 CEOs das maiores empresas americanas, defendeu que o lucro não é mais o principal objetivo das empresas e destacou a importância de questões como propósito social e sustentabilidade.
Há alguns meses, a Goldman Sachs publicou um extenso relatório alertando para os riscos do aquecimento global para as cidades e a economia mundial.