Erro: uma das palavras mais mal vistas no mercado financeiro. Grande, então, nem se fala.  
 
No entanto, essa é uma faceta inevitável do processo de investimento, no qual, por definição, não se pode falar em acertar sem se contemplar a possibilidade do erro.

10096 36e65003 0f1a 02bb 0695 372fbd268310Nada a fazer a respeito? Muito pelo contrário: todos os grandes gestores têm duas coisas em comum em relação a seus erros: nunca se colocam em uma posição em que uma escorregada possa ser fatal e aprendem com seus erros (nem sempre de primeira).
 
Em “Big Mistakes – The Best Investors and Their Worst Investments”, que acaba de ser lançado pela Bloomberg Press, Michael Batnick joga luz sobre o assunto analisando grandes erros cometidos por grandes investidores.

Não deve escapar aos estudiosos de Warren Buffett a ironia de que a Berkshire Hathaway, sinônimo de um dos maiores conjuntos de investimentos bem-sucedidos da história do capitalismo, deve seu nome e sua história ao que, ex post, se provou essencialmente um erro ao analisar um negócio têxtil em dificuldades. O ponto é tentar tirar algum aprendizado.

Investir não é fácil. Como Charlie Munger nos lembra no capítulo 14, “anyone who finds investing easy is stupid”. Mesmo aprender com os próprios erros está longe de ser trivial: o estudo de finanças comportamentais revela esse ‘elo fraco’ recorrente em nossa personalidade.

Além disso, não existe fórmula mágica, um conjunto de regras que, se seguido com zelo, garantirá sucesso. Stanley Druckenmiller (capítulo 10) e Buffett (capítulo 8) encontraram sucesso (e cometeram erros) se valendo de filosofias de investimento muito distintas. O que existe é a busca, de acordo com cada personalidade, de um estilo que seja adequado a nossas qualidades e falhas.

Mas se não existe um certo absoluto, por outro lado há milhões de maneiras erradas de se investir.

O livro ajuda a elucidar um ponto que não é trivial para aqueles que estão fora do mercado: não errar não é igual a acertar. Em linguagem financeira, um portfólio de risco zero, por definição, tem que ter uma taxa de retorno igual à taxa livre de risco.

Além disso, pode-se errar por ação ou omissão.

10507 97d4d5d7 fbbe 0a58 1144 e75868cda287Os grandes erros por ação são normalmente mais famosos e ‘barulhentos’, como Druckenmiller não aguentando mais ver as ações de tecnologia subir, capitular e comprar quase  no topo da bolha das dotcom.

No entanto, os erros por omissão, apesar de mais silenciosos, também podem custar muito.
 
O livro conseguiu cobrir um período temporal relativamente extenso e uma ampla gama de estilos de investir. “Big Mistakes” aborda desde os erros de investimento com foco no longo prazo, passando por ‘macro trades’ e arbitragem.

Infelizmente, o autor foca apenas no mercado norte-americano, o que é compreensível, considerando-se sua relevância, quantidade de dados históricos, etc. Por outro lado, os EUA são ‘a’ história de sucesso do capitalismo global, o único país grande — a Suíça não conta — cujo estoque de capital não foi arrasado por alguma guerra nos últimos 100 anos. Um mercado no qual, apesar de grandes crises como 1929 e 2008, ou eventos traumáticos como a Black Monday de 1987, a estratégia de ‘buy the dips’, de forma geral, foi bem-sucedida.

Vou postular aqui que gestores em países como o Brasil, que ao longo de sua história experimentaram eventos recorrentes de destruição de capital, acumulam erros diferentes.

Um amigo, piloto de avião, me disse certa vez que há dois tipos de pilotos: ousados ou velhos. Não existem pilotos velhos e ousados. Acho que a mesma máxima se aplica a gestores brasileiros. Há um erro que gestores locais com longos e bem-sucedidos ‘track records’ não cometem: excesso de agressividade. Por aqui, é difícil até vislumbrar a taxa livre de risco à qual nos referimos num parágrafo anterior. Gestores antigos carregam em seu DNA uma carga elevada de ceticismo, e em geral se arrepiam ao ouvir a frase ‘this time is different’. Como cravou Tom Jobim, “o Brasil não é para principiantes.” 
 
Batnick abre o prefácio com uma citação de Confúcio: “aprender pela experiência é a forma mais amarga”.

Não nos iludamos: todos vamos caminhar por essa trilha e provar do remédio amargo. Enquanto estivermos no mercado, essa é uma possibilidade clara. Aprender com os erros dos outros pode ser a forma mais barata, mas está longe de ser trivial.  Esse livro — um grande acerto — deixa isso claro.

Artur Wichmann é gestor de ações internacionais na Verde Asset Management.