Larry Summers, o ex-secretário do Tesouro americano, disse que o mercado talvez não esteja dando a importância devida aos riscos “políticos e geopolíticos” associados a uma provável vitória de Donald Trump na eleição de novembro.
“Um dos nossos pontos fortes é o Estado de Direito (rule of law) – a sensação de que o Estado de Direito é aplicado de forma que não dependa quem são as partes,” Summers disse durante um evento em Miami. “Temos isso como algo assegurado. Mas acho que é algo que poderia ser questionado no contexto das próximas eleições.”
Os comentários foram feitos na conversa de Summers com o ex-CEO do Google, Eric Schmidt, num painel do FII Priority Summit, um evento da Future Investment Initiative.
Summers jamais mencionou o nome ‘Trump’, mas, dado seu favoritismo nas pesquisas, o pré-candidato Republicano à Presidência era claramente o sujeito oculto das declarações.
Schmidt perguntou a Summers se os preços nos mercados refletem os riscos geopolíticos de um mundo “que está uma bagunça”.
Abaixo, a transcrição da resposta:
“Há risco geopolítico e risco político. Fui um Democrata durante toda a minha vida. Fico sempre mais feliz quando os democratas ganham as eleições. Esperava fervorosamente que Barack Obama vencesse Mitt Romney, e que John Kerry vencesse George W. Bush. Mas nunca ajustei meu portfólio com base nisso, nem fiz novos planos de vida, nem dei conselhos diferentes aos meus filhos com base no resultado de uma eleição. Mas acho que os riscos neste momento são realmente muito maiores.
Uma das características surpreendentes dos últimos 25 anos nos mercados é que, se você olhar para o valor das empresas dos EUA em comparação com o resto do mundo, ele disparou. Somos mais da metade do valor de mercado de todos os mercados de ações do mundo.
Isso é um grande tributo a muitos aspectos do capitalismo americano. Penso que é, acima de tudo, um reflexo do enorme benefício de sermos um país onde alguém pode levantar os primeiros US$ 100 milhões antes de ter comprado seu primeiro terno [uma alusão ao mercado de venture capital no Silicon Valley].
Temos muita força, e um dos nossos pontos fortes é o Estado de Direito (Rule of Law) – a percepção de que o Estado de Direito é aplicado de forma que não dependa quem são as partes. Temos isso como algo assegurado. Mas acho que é algo que poderá vir a ser questionado no contexto das próximas eleições.
Uma das lições mais claras da história econômica é que, depois de uma década, o populismo é quase sempre negativo para o desempenho econômico – seja o populismo de direita ou o de esquerda.
O populismo prejudica economias, prejudica mercados. Espero estar errado, mas penso que são muito reais os riscos da política nacionalista e populista, tanto no nível interno – em termos do Estado de Direito – quanto no plano internacional, em termos de protecionismo e restrições aos fluxos de mercadorias, fluxos de capital, fluxos de pessoas, restrições à capacidade e à vontade de participar em acordos de segurança coletiva.
Não é a minha previsão que isso aconteça, mas são riscos muito reais e parece-me que não estão suficientemente avaliados neste momento pelos mercados.
Eric, você e eu éramos muito próximos do falecido Henry Kissinger. Henry tinha muitas crenças fascinantes, complexas e cheias de nuances.
Entre as ideias dele, a que me parece central é a da previsibilidade como um pré-requisito para que qualquer coisa boa aconteça e a sensação de que nada de bom vem dos anarquistas – da anarquia, do caos e total imprevisibilidade.
O mundo poderá caminhar para um período em que haverá menos noção de qual será a ordem e, portanto, mais risco de desordem, caos e sofrimento. Não tenho certeza de que esse tipo de risco esteja totalmente precificado nos mercados, mas é claro que cabe a cada investidor fazer seu próprio julgamento.”