A pressão do presidente Lula sobre o Banco Central para derrubar os juros parece ter conseguido, até o momento, o efeito contrário ao pretendido. Os bancos estão revisando para baixo as suas projeções para o PIB de 2023, e a razão se deve em boa parte ao ruído político.

10203 7507252c d455 0000 0001 565943e8487aO time do UBS BB acaba de diminuir a sua projeção para o crescimento do PIB deste ano de 0,7% para zero. O consenso de mercado é um crescimento de 0,8%.As razões apontadas para a revisão são os “suspeitos de sempre,” diz o banco: taxas reais de juros mais elevadas, ruído político e desaceleração na economia internacional.

“O ruído em torno das políticas monetária e fiscal deve manter elevados os juros mais longos. Por isso, esperamos uma queda de 4% nos investimentos em 2023,” afirma o relatório. “O ruído deverá se manter alto nos próximos trimestres. Revisamos a estimativa de crescimento de 2024 de 1,8% para 1%. Em 2025, esperamos agora 1,5%, em vez de 2,2%.”

O Itaú também jogou para baixo as suas estimativas para o PIB, de 1,3% para 0,9%. Na avaliação do banco, as “incertezas sobre o compromisso da política econômica com inflação baixa” têm trazido “dúvidas sobre o regime monetário”, cujo reflexo foram os aumentos nas projeções de juros e inflação.

“Para reverter a dinâmica negativa, seria importante o governo reforçar o compromisso com a inflação baixa, mantendo a meta em 3% e reduzindo a incerteza sobre sua postura quanto à autonomia do Banco Central,” afirma o Itaú.

Já o Santander manteve a sua projeção de 0,8% para o ano, dizendo que a desaceleração na demanda doméstica em razão dos juros mais elevados deverá ser mitigada em parte pelos bons resultados na agricultura, com a expectativa da melhor colheita de grãos da história.

O Bank of America não mexeu por enquanto na sua estimativa de alta de 0,9%, mas o viés é de baixa, entre outros motivos pelas pressões inflacionárias e pelo aperto monetário.

Em um relatório enviado aos clientes no início da semana, a consultoria AC Pastore, do ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore, analisa como a desancoragem das expectativas de inflação é, em larga medida, uma consequência do conflito entre as políticas fiscal e monetária – e isso poderá ter impacto expressivo no custo de rolagem da dívida.

Conclui a consultoria: “Essa é uma ‘guerra’ que tem apenas perdedores. Infelizmente, um ataque político à independência do Banco Central eleva o risco da inflação e reduz a capacidade de crescimento econômico.”