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As ações da B2W, a dona do Submarino e das Americanas.com, subiram 400% nos últimos 12 meses, e agora negociam a 32 reais.

No entanto, das 17 corretoras que cobrem a empresa, apenas uma tem recomendação de ‘compra’.

O JP Morgan tem o preço-alvo mais alto para a ação (33 reais), mas ainda assim recomenda que o investidor fique ‘neutro’.

Em resumo: quase todos os analistas perderam a ressurreição do papel, impulsionada quase completamente pela injeção de confiança trazida pelo Tiger, um fundo norte-americano que se comprometeu a investir na empresa pagando 25 reais por ação num aumento de capital. (Na época, a ação negociava a 15,50 reais.)

Como o Tiger já ganhou muito dinheiro investindo no Facebook e na Zynga (a dona do FarmVille), os investidores resolveram acreditar que o Tiger sabe o que está fazendo — e foram no vácuo.

Depois de uma alta tão acachapante, é hora de vender, ou o melhor ainda está por vir?

Para saber se a ação está cara, muitos investidores comparam a B2W com a Amazon, a superpotência do e-commerce mundial.

O valor de mercado da B2W agora equivale a 1,06 vez o seu faturamento. Já a Amazon negocia num nível mais alto: vale em Bolsa 1,6 vez o seu faturamento.

Mas, para que a comparação seja justa, é preciso entender que a Amazon tem dois negócios distintos: o e-commerce (que na opinião dos analistas deveria valer um pouco abaixo de 1 vez o valor das vendas) e um negócio chamado “marketplace” — as vendas de produtos de terceiros, pelas quais a Amazon recebe uma bela comissão.

Como a margem de lucro do marketplace é bem maior que do e-commerce, os analistas colocam na conta que este negócio vale mais: de duas a quatro vezes o seu faturamento. E como o tamanho do marketplace da Amazon é relevante, ele “puxa para cima” o valor da empresa.

A B2W também tem uma operação de marketplace, mas ainda irrelevante: ela está no início e tem vendas irrisórias.

Os investidores que acham que a ação ainda está barata apontam para a enorme oportunidade que a empresa tem pela frente: fazer crescer este negócio de margens mais robustas. Já os que vêem o copo meio vazio dizem que a ação está cara justamente porque a empresa ainda não tem um marketplace desenvolvido e porque ela ainda não dá lucro.

A B2W tem feito investimentos maciços nos últimos anos, os quais, somados às necessidades de capital de giro, fizeram a empresa queimar cerca de 300 milhões de reais em caixa no ano passado. Com o aumento de capital feito este ano, a B2W tem dito a analistas que espera entrar no azul no ano fiscal de 2015 (os números, dependendo do que se inclui na conta, mudam como areia movediça).

Numa coisa, no entanto, os dois lados podem concordar: a B2W de hoje tem cada vez menos a ver com aquela empresa que, pouco tempo atrás, se tornara sinônimo de mau atendimento e entregas incertas. Já mostramos aqui como a percepção dos clientes em relação à empresa tem melhorado .

Nos últimos dois anos, a B2W tem construído uma máquina de tecnologia e logística. No ano passado, comprou quatro empresas e, no início desta semana, verticalizou sua logística ao comprar a Direct Express da Tegma por 127 milhões de reais.

Dentre as “aquisições estratégicas” feitas em 2013, três eram empresas de tecnologia especializadas em desenvolvimento de sistemas – Uniconsult, Ideais e Tarkena – e uma transportadora especializada em operação para o comércio eletrônico, a Click-Rodo.

Com as três aquisições de empresas de tecnologia, a B2W dobrou o time de engenheiros de tecnologia/internet para mais de 600 pessoas.

Em 2013, abriu três centros de distribuição, o que melhorou sua capacidade de entregar os produtos no dia combinado com o cliente. Ela tem agora sete CDs em operação e espera abrir outros sete até o final de 2015.

Além de finalmente gerar caixa, talvez o último obstáculo que resta para a empresa está no mercado de capitais: como os analistas profissionais perderam a explosão da ação (já que ninguém podia prever o “efeito Tiger”), talvez seja difícil para as corretoras recomendar a compra agora, depois da alta.

O Tiger muito provavelmente investiu na B2W pensando nos próximos 5 ou 10 anos, mas o horizonte das corretoras é bem mais curto, e “ninguém quer correr o risco de mudar de ‘neutro’ para ‘compra’ e ver o papel cair 10% no dia seguinte, por qualquer que seja o motivo”, diz um gestor.