A State Grid foi o grande vencedor do leilão de transmissão desta manhã, com outros participantes reclamando que os termos do edital favoreceram os chineses desde o início.

“O lote 1 [o maior dos três colocados à venda] foi desenhado para os chineses ganharem,” disse um investidor que acompanha o setor. “Os termos do edital impunham um tipo de tecnologia, e o único fornecedor dessa tecnologia no Brasil são empresas chinesas.”

Um terço de todo o capex do lote 1 — que demandará investimentos de mais de R$ 18 bilhões — terá que ser gasto num sistema de corrente contínua conhecido como HVDC (high voltage direct current). 

Mas o sistema escolhido pela ANEEL foi uma tecnologia de HVDC antiga, que quase não é mais usada nos novos projetos de transmissão.

“Todos os novos projetos, com exceção dos chineses, estão migrando para uma nova tecnologia de HVDC que tem fornecedores globais como a Siemens e a Hitachi,” disse um dos participantes. “Mas, por algum motivo, a ANEEL optou por essa tecnologia mais antiga. Se eles tivessem optado por outra, certamente haveria mais competição.”

Segundo este participante do leilão, essa tecnologia de HVDC mais antiga é fornecida basicamente por empresas chinesas no Brasil — e todas pertencem à State Grid. 

O consórcio Olympus XVI — composto pela Alupar e a Perfin — também fez uma oferta. Segundo uma fonte próxima ao consórcio, isso só foi possível porque o consórcio conseguiu ontem a noite a garantia de um grupo japonês para o fornecimento da tecnologia por um preço-teto. 

Ainda assim, como a garantia veio de última hora, “eles não tinham muita precisão dos números e não conseguiram ser mais agressivos,” disse a fonte.

O leilão, que aconteceu hoje cedo na B3, foi o maior da história da ANEEL, somando R$ 21,7 bilhões de investimentos em três lotes (a maior parte no lote 1). Para efeito de comparação: no último leilão, de junho, o capex foi de R$ 15,7 bilhões. 

 A State Grid levou o lote 1 — que passa pelos estados do Maranhão, Tocantins e Goiás — oferecendo um deságio de 39% em relação à RAP máxima, que era de R$ 3,2 bilhões. 

Como o lote 1 era muito grande, o leilão também permitia ofertas individuais pelos quatro sublotes que o compunham. O Olympus XVI fez ofertas por todos eles, mas como o deságio oferecido pelo State Grid no lote inteiro foi maior que a soma dos deságios dos sub lotes, a chinesa levou tudo. 

Nas contas do Citi, a TIR para o lote 1 é de cerca de 11,6%, considerando uma redução de 15% do capex previsto pela ANEEL e uma antecipação da entrega de um ano. 

Já o lote 2 foi arrematado pela Olympus XVI com um deságio de 47%, implicando uma RAP de R$ 239 milhões. Esse lote tem uma extensão de pouco mais de 1.000 km e passa pelos estados de Minas Gerais, São Paulo e Goiás. 

Para o Citi, a TIR do lote 2 deve ficar na casa dos 8%, considerando as mesmas premissas: uma redução do capex de 15% e uma antecipação de um ano da entrega do projeto. 

Segundo uma fonte próxima ao Olympus, o consórcio está trabalhando com premissas mais agressivas — antecipação de dois anos e redução de 25% do capex — que levam a uma TIR mais próxima de 13%. 

O lote mais concorrido foi o 3, que teve propostas da Olympus XVI, da Eletrobras, de um fundo do BTG e da Celeo Redes. No final, o lote foi para o leilão viva-voz com a Eletrobras e Celeo Redes competindo pelo ativo.

A Celeo acabou levando com um deságio de 42% e uma RAP de R$ 101,2 milhões — o equivalente a uma TIR de 9,3%, segundo o Citi, usando as mesmas premissas.