A Avenue foi talvez a grande responsável por popularizar os investimentos do brasileiro no exterior. A corretora com sede em Miami já tem, sozinha, uma custódia maior do que todos os BDRs negociados por pessoas físicas na B3.
Mas Roberto Lee, o fundador da corretora, nem por isso dorme tranquilo.
“Será que estamos plantando uma semente que outros vão colher lá na frente?” ele pergunta retoricamente ao Brazil Journal. “As grandes plataformas já tem corretoras internacionais, mas todas elas hoje param nos clientes do private. Com certeza, em algum momento elas vão chegar também no varejo…”
Para consolidar sua posição dominante e garantir que outros não colham a semente que plantou, a Avenue acaba de levantar US$ 30 milhões numa rodada liderada pelo Softbank — a segunda desde que a corretora foi fundada no início de 2019.
A Série B também teve a participação da Igah Ventures, que havia liderado a rodada anterior.
Os recursos da rodada vão ser usados para fortalecer o balanço da Avenue e financiar sua estratégia de se transformar num banco completo para o brasileiro que quer investir lá fora.
Cerca de mil dos 300 mil clientes da Avenue já estão testando os serviços de banking, que, por enquanto, incluem uma conta corrente e um cartão de débito.
“Vai ser um cartão para pequenas transações da vida do cliente que são dolarizadas. Ele pode usar em viagens, mas também para fazer compras internacionais no ecommerce,” disse Lee. “Com uma conta corrente nos EUA, o cliente se conecta a crédito, seguro… Você bancariza as pessoas e dá acesso a produtos que muitas vezes são mais baratos e melhores do que os que temos no Brasil.”
Segundo ele, a expectativa é que metade da base de clientes da Avenue use os serviços de banking já no curto prazo.
A corretora também está incluindo uma oferta de fundos de investimento, que vai se somar aos ETFs, ações e REITs já disponíveis na plataforma.
A ideia é cortar o intermediário, reduzindo custos para o cliente. Hoje, se um cliente quer comprar um grande fundo americano (um Pimco ou Bridgewater, por exemplo) na plataforma da XP ou BTG, ele o faz por meio de um feeder fund, o que implica em taxas maiores do que se ele comprar o mesmo fundo diretamente nos EUA.
“Vamos ‘bypassar’ essa estrutura dos feeder funds e permitir que ele invista direto nos principais fundos de investimento americanos,” disse Lee.
Os novos produtos devem aumentar as linhas de receita da Avenue — que hoje ganha dinheiro basicamente com o spread na conversão do câmbio e com as taxas de intermediação de ações do plano premium — bem como seu share of wallet, que gira em torno de 10% da liquidez do cliente.
Lee disse que espera que no futuro os clientes passem a deixar pelo menos 30% de todos os seus recursos na Avenue. “Os clientes da primeira safra já tem esse share of wallet de 30%, mas são clientes com menos recursos,” disse ele.
Com mais de US$ 1 bi sob custódia, a Avenue é a líder disparada de um mercado que tem visto a chegada de cada vez mais concorrentes. Startups como Stake, Passfolio e Nomad levantaram rodadas recentemente e estão correndo para captar clientes — sem falar na potencial entrada das grandes corretoras nesse mercado.
Com isso em mente, a Avenue vai usar parte dos recursos da rodada para investir em marketing e acelerar sua captação — que hoje está num ritmo de mil clientes por dia útil e US$ 100 milhões por mês. (Segundo Lee, essa captação varia muito dependendo de alguns eventos. No dia do IPO da Coinbase, por exemplo, ela foi 3x maior que o habitual).
Para concretizar seu plano de virar um banco completo, a Avenue está construindo toda a infraestrutura tecnológica e regulatória necessária. Hoje, ela tem uma licença de ‘transferência de recursos’, mas deve conseguir em breve uma licença bancária.