Hoje não falaremos de ladrões que roubam sonhos para encher malas de dinheiro sujo.

Vamos falar de um outro Brasil que existe, ainda que anos de Lava Jato nos tenha feito esquecer. 

Segundo o repórter Phelipe Caldas, do Globo Esporte, tudo começou no basquete.

Ocorre que os alunos da Escola Municipal João Alves, de Caiçara — uma cidade pobre do agreste paraibano — venceram o time do Motiva, de João Pessoa, na final dos Jogos Escolares da Paraíba.

Ora, o Motiva é um dos colégios particulares mais tradicionais (e caros) do estado, enquanto os vencedores do torneio (os Caiçara Tigres) são de uma escola municipal que reúne os atletas pobres de um projeto social da cidade.

A vitória garantia uma vaga nos Jogos Escolares da Juventude, um torneio que vai acontecer em Curitiba entre 12 e 21 de setembro (e um mega ‘big deal’ para a molecada envolvida). 

O time de Caiçara ficou muito feliz com a vitória (31 a 19), mas, como se sabe, alegria de pobre dura pouco:  sem grana para viajar a Curitiba, os meninos de Caiçara abriram mão do título — automaticamente devolvendo a vaga aos alunos do Motiva.

O que aconteceu em seguida foi um ato de nobreza, um relâmpago que ilumina a longa noite escura do Brasil.

Ao serem informados do motivo da desistência, os pais dos alunos do Motiva resolveram que aquilo não era certo.

Sensibilizados, pensaram nos filhos dos outros.  Mobilizaram-se e abriram uma vaquinha nas redes sociais para levantar o dinheiro necessário para o Caiçara viajar: R$ 15 mil, incluindo passagens aéreas, hospedagem e alimentação.

“O projeto de Caiçara salva vidas e eles iriam desistir da viagem por causa da falta de condições. Isso seria um absurdo. Iniciamos a campanha e ela ganhou o país. Já recebemos dinheiro de todo o Brasil. Entram depósitos do Rio de Janeiro e de São Paulo que a gente simplesmente não sabe de quem é”, Tárik Pereira, um dos pais que organizaram a vaquinha, disse ao site SóNotíciaBoa.

Na página de Tárik no Facebook, há uma prestação de contas dos gastos, incluindo a nota fiscal e a fatura de compra das passagens aérea. 

“O saldo sobejante continua em conta corrente para as demais despesas da viagem bem como para os outros custos de manutenção do projeto,” escreveu Tárik. “Esse documento é muito mais que um simples comprovante de pagamento. Ele representa a concretização de um objetivo de milhares de pessoas que tinham o único intuito: fazer o bem.”

Num país que já viu dinheiro na cueca, dinheiro enterrado na piscina, e malas repletas de dinheiro inexplicável, o exemplo destes pais e alunos dá esperança de que o Brasil da solidariedade possa vencer o Brasil da ganância.

Eles foram além do que a realidade lhes cobrava, e estratosfericamente acima do exemplo dado por nossas lideranças políticas. 

Sua grandeza e senso de justiça chocam um País que já se acostumou a esperar o pior, e que cada dia acredita menos em si mesmo.

Os pais do Motiva mostram que talvez — talvez — nosso resgate ético seja mais possível do que se acredita.

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Na foto lá em cima, o time do Motiva: eles perderam, mas se sagraram campeões para sempre.

Na foto abaixo, os tigres do Caiçara: talento e raça.

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