O ex-head de research da Goldman Sachs na América Latina, Felipe Mattar, está começando a distribuir o fundo de sua gestora Atmosphere nas plataformas de varejo depois de 17 meses testando a estratégia com capital próprio e de seus outros sócios.

11760 56310617 6174 dc9c a3a2 ed13360bd34eO Atmosphere Global Total Return é um fundo ‘long biased’ que investe principalmente em ações globais e protege seu risco ficando short em ETFs setoriais. Nos últimos 12 meses, o fundo obteve um retorno de 32%, pouco menos que o S&P 500 (34,5%), mas com uma volatilidade menor (12,8% vs. 13,8%).

O fundo capturou boa parte do rali recente das commodities e agora está se posicionado em nomes de infraestrutura e energia limpa. A correlação da carteira com o S&P 500 está em 0,6, o que em tese protege o fundo de grandes correções do mercado.

A distribuição do Atmosphere no varejo acontece num momento em que o brasileiro cada vez mais busca exposição a ativos dolarizados, fugindo da volatilidade política e da incapacidade do Brasil de crescer sem vôos de galinha.

Além de nossos problemas macro, “o mercado lá fora é um mercado de alocação de capital,” Felipe disse ao Brazil Journal.

“O bom ‘management’ que aloca bem o capital, que entrega guidance, ele é premiado ‘big time’. Aqui no Brasil só temos três tipos de empresa: estatal, subsidiária de empresa gringa, e empresa de dono. Onde está a alocação de capital aqui? O dono não necessariamente quer alocar o melhor capital, ele quer ser grande. A subsidiária muitas vezes quer fazer o melhor pra empresa gringa. E a estatal… eu não preciso nem falar.”

Outros sócios da Atmosphere incluem Alexandre Castanheira, o ex-head de DCM e renda fixa do Morgan Stanley; Caio Carvalhal, que cobria energia no Brasil Plural e tem passagens pelo research do JP Morgan e Morgan Stanley; e Alexandre Cruz, um analista de energia elétrica, telecom e bens de capital que geriu um fundo long biased no Santander Asset.

Felipe discutiu com o Brazil Journal três teses de investimento do fundo:

Waste Connections

Com algum atraso em relação à Europa, os Estados Unidos estão passando agora por um processo de migração para a industrialização do lixo. Hoje, as empresas de coleta de lixo recebem basicamente pela coleta e pela reposição. Com essa industrialização, elas vão passar a coletar, reciclar, transformar o lixo orgânico em alguma energia, e transformar o lixo inorgânico não reciclável em combustível não renovável.

Adicionando essas outras formas de monetizar o lixo, as empresas conseguem ganhar 60% a mais de receita por tonelada coletada do que elas ganhavam antes.

O segundo ‘driver’ é a consolidação. O setor hoje é pouco concentrado: as maiores empresas têm apenas 5% de toda a operação de coleta dos EUA. Nos últimos anos, a Waste Connections já passou por um ciclo de consolidação que chamamos de ‘20 milhas’ (ela comprou concorrentes que operam até um raio de 20 milhas de seu negócio). Esse movimento fez o EBITDA aumentar 15% ao ano nos últimos 10 anos, dobrando o tamanho da empresa. 

Agora, a Waste está migrando para uma expansão por M&A num raio acima de 30 milhas, o que aumenta a receita e também gera um ganho de escala de custos na medida em que ela vai comprando concessões próximas.

Darling Ingredients

A Darling é uma empresa de 30 anos que coleta restos de óleo de restaurantes e restos de gordura frigorífica. E ao longo do tempo, ela processava esses materiais e transformava em alimentos para animais. 

De uns cinco anos para cá, ela começou a investir em capacidade de geração de diesel reciclável, e a migrar o negócio dela para a produção de diesel reciclável. (A diferença do diesel reciclável para o biodiesel é que o reciclável é de fato zero emissão, porque estou coletando óleo que seria queimado, e o biodiesel é carbono neutro). 

Eles estão começando pela Califórnia, onde existe uma exigência de mistura deste diesel reciclável pelas refinarias no diesel distribuível. E para essa mistura, eles recebem subsídios federais, estaduais e crédito de carbono, o que faz com que ela consiga vender o diesel dela por quase 8x o valor do diesel normal.

Conclusão: é uma empresa que deve crescer 15-20% ao ano de EBITDA nessa tendência. Hoje, o diesel reciclável já representa metade dela, ela é líder do mercado na Califórnia e está expandindo para outros Estados. Em três anos, esperamos que ele passe a representar 80%-90% da receita, e com esse tipo de economics.

Vistra Corp 

A Vistra é uma varejista de energia que opera principalmente no Texas, que é um mercado desregulamentado. Ou seja, o cliente paga o fio para a distribuidora e escolhe de quem quer comprar a energia. 

Essa empresa passou recentemente por uma reestruturação de capital e de ativos. Ela era uma geradora, com térmicas a carvão, e está desmontando todas essas térmicas para virar apenas uma varejista de energia. Ao mesmo tempo, está adquirindo uma base de clientes muito grande com o uso de tecnologia. O grande ativo deles é um app que mostra quanto o cliente consome, no quê consome, e onde ele pode economizar. 

Ao se tornar uma empresa ‘asset light’, ela está gerando muito caixa. Agora, à medida que ela ganha o cliente, o próximo passo é apostar na descentralização do mercado de energia, com o consumidor passando a produzir sua própria energia [a chamada geração distribuída no Brasil]. 

A tese: já que eu tenho o cliente vou começar a apostar na descentralização, fazendo parcerias com as provedoras de painéis solares, para distribuir isso na base deles. Ela vai chegar para uma empresa de painéis solares e falar: ‘instale o painel solar, que eu garanto a base, financio o cliente, mas vou capturar parte do investimento que você fez.’ 

Com isso, ela vai virar um business de ROIC infinito!