Trabalhando há quatro anos na área de tech do Itaú BBA, Julia de Luca tem construído um networking cada vez maior no ecossistema latinoamericano de tecnologia.
Em meados do ano passado, ela decidiu aproveitar esses contatos para criar uma newsletter que resume e analisa os principais acontecimentos da semana no mundo das startups e fundos de venture capital.
Em pouco tempo, o Weekly Tech Update ganhou tração, atingindo mais de 5 mil assinantes e levando a uma parceria com a Nasdaq, que passou a publicar o conteúdo da news em seu site global.
Agora, Julia se juntou a Lucas Abreu — um analista da Astella Investimentos que também tem uma newsletter de tech — para lançar uma pesquisa anual chamada “The Next Big Thing,” inspirado no relatório americano de mesmo nome criado por Nikhil Basu, o fundador da Footwork, uma gestora de early stage.
Nikhil ouve personalidades americanas sobre as tendências globais de cada setor. Julia e Lucas estão ouvindo brasileiros.
A primeira edição, que está sendo publicada hoje com apoio do Brazil Journal, traz 59 personalidades de 25 setores prevendo as principais tendências para seus mercados nos próximos 12 meses.
Abaixo, alguns dos insights. Para ler o relatório na íntegra, clique neste link.
Saúde – José Eduardo Guinle, sócio na DNA Capital
A próxima grande tendência é a descentralização e digitalização da saúde. A combinação da telemedicina, serviços médicos em casa e digitalização das farmácias fará com que o cuidado com a saúde seja feito cada vez mais sem sair de casa e de forma mais integrada, provendo à população mais acesso e adesão ao tratamento.
Empresas listadas – Leonardo Otero, sócio da Arbor Capital
2023 será o ano da eficiência, no qual empresas precisam fazer mais com menos – e a lucratividade é uma prioridade universal. Após uma década em que o principal objetivo era o crescimento, hoje os fundadores precisam mostrar que seus negócios param de pé. Em uma negociação, o capital voltou a ter a palavra final.
Cripto – Marcelo Sampaio, CEO da Hashdex
A próxima grande tendência em 2023 é a regulamentação crypto. A falta de regras claras para impor total transparência entre os players centralizados levou a muitas decepções em 2022. Embora no futuro a transparência seja garantida pela própria blockchain, a tecnologia levará seu tempo para evoluir. Até chegarmos lá, a indústria crypto terá que contar com os reguladores para criar estruturas bem pensadas que evitem casos como o FTX, enquanto permitam que a Web3 floresça e alcance todo o seu potencial.
Educação – Paulo Silveira, fundador da Alura
As edtechs finalmente vão entender 3 coisas óbvias: 1) lifelong learning não pode ser aplicado como um produto único e padronizado para todos. 2) não existe disrupção rápida em educação 3) o chamado modelo tradicional ganhará mais destaque, porém como laboratório. Espero que possamos nos concentrar nos alunos e professores, evitando as tendências pure tech e purê gimmick. Apesar de aprendermos muito com elas, e foco deve ser sempre nos alunos e professores.
Growth capital – Paulo Passoni, investidor em garden leave
As melhores empresas de late stage devem levantar recursos através de conversíveis que serão acionados no preço do IPO + um retorno preferencial. Isso evita a necessidade de precificá-las durante períodos de incerteza elevada. O valuation em rodadas Série B+ cairão drasticamente vs. 2021, conforme investidores precificarem startups pensando em múltiplos de saída mais baixos com base nos earnings ou no EBITDA, em vez de um múltiplo de receita.
Direito – Fabiana Fagundes, fundadora do FM/Derraik
As startups costumam captar dinheiro através do modelo de “staged financing” em que os recursos investidos normalmente são consumidos ao longo de 18-24 meses. Os investimentos captados durante as rodadas de 2020 e 2021 estão chegando ao fim, e os fundos de venture capital (os VCs) estão mais seletivos e criteriosos na seleção das startups. As startups já começaram a aceitar que os valuations serão mais modestos na próxima rodada e começaram a buscar, além de capital financeiro, contribuições intangíveis, como por exemplo acesso a canal de distribuição (que no Brasil têm um valor imenso), bases de dados e mentorias de executivos seniores de grandes corporações para acelerar a curva de aprendizado e agilizar o product-market fit. (…)