Um ano atrás, Francisco Soares Brandão anunciou planos para sua sucessão na FSB, a maior agência de relações públicas do país.

“Você tem que saber a hora de entrar no palco e a hora de sair,” ele disse ao Brazil Journal à época, caracterizando o anúncio como “o dia mais feliz” de sua vida. “Quero sair pela porta da frente, devagarinho.”

10557 1c2ebd99 dff8 7960 a560 749dc4140fc0Desde então, Chiquinho — como é mais conhecido — esteve trabalhando em suas memórias.

“O que pode dar certo”, que chega segunda-feira às livrarias e já está disponível na Amazon, é um documento importante, no sentido de que todo empresário com um legado relevante deveria deixar um depoimento do tipo.

O livro, do qual o Brazil Journal publica alguns excertos abaixo, é um relato de Chiquinho sobre as dificuldades do início, até encontrar o caminho que o levou a criar a FSB há 41 anos.

Buscando um caminho

Comecei a trabalhar cedo e busquei vários caminhos: fui estagiário num escritório de advocacia, agente de turismo, tive emprego em banco, trabalhei com moda, com publicidade e até como corretor de imóveis. Sempre tive facilidade de fazer amigos e de me relacionar bem com todo tipo de gente, sempre admirei a iniciativa e o empreendedorismo. Depois de várias tentativas, erros e acertos, pude finalmente encontrar minha verdadeira vocação profissional como empresário na área de comunicação.

Iniciei o negócio sozinho, do zero, no começo da década de 1980, com apenas uma linha telefônica de patrimônio. Hoje é difícil imaginar isso, mas na época uma linha dessas valia bastante. Com o nome de Promoshow, a empresa era voltada inicialmente para a promoção de eventos, e depois foi rebatizada como FSB quando comecei a prestar serviços na área de assessoria de comunicação empresarial.

Era um modelo de negócio novo, visto pelos jornalistas e publicitários como algo de segunda categoria, mas o que eu enxergava era um campo de atuação muito pouco explorado, com enormes perspectivas de crescimento.

Foi o que aconteceu. Depois de quase 40 anos de bastante trabalho e dedicação, hoje a empresa tem mais de 800 colaboradores e atende cerca de 300 clientes dos mais diversos setores, no Brasil e no exterior.

Um primeiro sucesso 

Um dos primeiros casos de sucesso foi com a construtora Gomes de Almeida Fernandes, que estava lançando um empreendimento imobiliário com um conceito novo para a época, o de apartamentos residenciais com serviços. No meio do caminho entre um imóvel tradicional e um flat ou apart-hotel, cada prédio oferecia aos moradores uma estrutura de lavanderia, telefonista, arrumadeira, cozinha, antena coletiva de TV, academia de ginástica etc.

A construtora era cliente da Ellis&Associados. Conversei com Cid Keller, diretor da Gomes de Almeida Fernandes na época, e propus buscar a publicação de uma matéria na imprensa sobre aquele tipo de produto. Achei que se tratava de um assunto interessante na área de comportamento, apresentando aos leitores uma nova proposta de moradia que representava uma mudança na forma de viver dentro das grandes cidades. Cid topou a ideia, e fui então tentar oferecer essa pauta na redação dos jornais. E saiu uma matéria, depois outra… E logo tinham vendido todos os apartamentos.

O resultado do meu trabalho superou todas as expectativas, só que não tínhamos combinado uma remuneração. Não compramos nenhum anúncio, e não havia uma tabela de preços como no caso de um espaço comercial. Eu sabia como cobrar pelos eventos que organizava, mas aquilo era uma novidade.

Uma coisa era evidente: tive a criatividade de produzir, a partir do conceito e do produto do cliente, um conteúdo de qualidade para ser publicado no jornal. As matérias geraram interesse no público e incremen- taram a venda dos imóveis antes mesmo de sair o primeiro anúncio da campanha publicitária. E isso tinha que valer alguma coisa.

Propus então ao Cid fazermos uma experiência: a construtora me pagaria um valor fixo por mês, durante três meses, e eu seguiria fazendo esse trabalho de assesso- ria de comunicação, procurando divulgar ao máximo os produtos e a marca da empresa nos mais diversos veículos.

Assim foi criado o sistema do fee mensal, que se tornou uma referência para esse modelo de negócio no país.

Um nicho inexplorado

O escritório tinha duas salinhas e uns poucos funcionários. Eu trabalhava com uma atividade que era vista com ressalvas no meio jornalístico, tinha dificuldade para ser recebido nas redações, mas conseguia obter bons resultados para os clientes, oferecendo-lhes soluções a um custo-benefício atrativo.

Naquele momento não existia esse tipo de negócio no mercado, então praticamente não havia competição. Havia algumas pequenas agências de assessoria de imprensa no Rio e em São Paulo, mas nada muito bem estruturado ou posicionado. O que não faltava era espaço para crescer. Quando começaram a surgir concorrentes maiores, a FSB já estava bem organizada para oferecer um serviço de ótima qualidade para os clientes.

Acho que na vida é muito importante a gente descobrir o que gosta de fazer, qual a maior vocação, para poder aprimorar isso com a experiência. Se meu verdadeiro talento estava na área da comunicação, naquela altura já estava maduro para fazer as coisas acontecerem. Tinha descoberto um veio praticamente inexplorado do negócio, e isso deu um norte à minha vida profissional.

Foi quando botei na cabeça que iria fazer a melhor empresa de comunicação empresarial do país. Não precisava ser a maior, mas seria a melhor. E segui trabalhando com isso em vista, com a maior determinação.

Liderança e cobrança

Gosto de cumprir e de ver cumpridas todas as tarefas no menor tempo possível, com total clareza e objetividade. Não tenho a menor paciência para quem gosta de botar a culpa nos outros, no governo ou no que seja, em vez de realizar com presteza o serviço que lhe cabe. Para mim, problema é igual a solução. Quanto mais simples e rápida, melhor.

Costumo distribuir entre os funcionários e colaboradores um livrinho que me foi apresentado há muitos anos pelo meu amigo Cid Keller e que resume bem essa filosofia: Mensagem a Garcia. Por trás da história de um homem que atravessa sozinho um país para entregar uma mensagem importante, capaz de mudar o rumo de uma guerra, o livro trata da importância de cumprir bem sua missão, ter iniciativa e conquistar bons resultados – em resumo, saber dar conta do recado.

Quem trabalha liderando uma equipe, lidando com gente, e não estimula e não sabe cobrar, ou não sabe escolher os melhores profissionais para escalar um time vencedor, trazendo as melhores pessoas para o seu lado, não está fazendo bem o dever de casa. Esse dever, pelo menos, fiz muito bem feito. A cada etapa do caminho, à medida que as condições permitiam, pude sempre escalar equipes vencedoras. E essa talvez tenha sido uma das coisas mais importantes que aprendi a fazer na vida, porque do mesmo modo que uma boa equipe motiva a gente e estimula todo o mundo a andar para a frente, uma equipe ruim pode levar tudo a perder.