Logo antes da pandemia, o CEO da Itaúsa e presidente do conselho do MASP, Alfredo Setubal, passou boa parte de 2019 dirigindo seu Volvo pra cima e pra baixo no tráfego pesado de São Paulo. Alfredo carregava sempre dois passageiros: o ex-banqueiro e colecionador Ronaldo Cezar Coelho, e Heitor Martins, o sócio da McKinsey e presidente do MASP.
Juntos — e ocasionalmente se perdendo na periferia da metrópole graças às deficiências do Waze — o trio bateu às portas de dezenas de famílias superlíquidas para botar de pé um projeto transformacional para o MASP: levantar R$ 180 milhões para retrofitar o prédio ao lado do museu e multiplicar seu espaço de exibição, permitindo que o MASP receba exposições que hoje não chegam ao Brasil por falta de espaço com a segurança e a tecnologia para recebê-las.
O pitch para os empresários era o mesmo para todos os visitados: “Não viemos lhe pedir uma doação — viemos lhe fazer um convite para entrar na História de São Paulo.”
Ao todo, 17 famílias já aceitaram o convite e contribuíram um total de R$ 167 milhões — fazendo do Masp em Expansão o maior projeto de filantropia cultural da história do País. O dinheiro não vem de empresas, nem conta com incentivos fiscais.
As conversas continuam com outros doadores potenciais, e o MASP só vai divulgar os nomes quando a captação estiver concluída. A obra, no entanto, já começou.
O novo prédio terá nove andares com pé-direito duplo: sete para exposições, um para atividades escolares e um ateliê de restauro. Uma galeria subterrânea unirá o prédio novo ao principal.
Depois da obra, a capacidade do MASP sairá do pico de 500 mil visitantes/ano — quando ‘Tarsila Popular’ gerou filas antropofágicas que dobravam o quarteirão — para 2 milhões de visitantes/ano. Essa nova potência será testada já em 2026, quando o MASP vai montar uma exposição de Van Gogh.
Somando o novo MASP ao equipamento cultural existente — o Instituto Moreira Salles, a Japan House, a Cidade Matarazzo, o Itaú Cultural e o SESC — “a Avenida Paulista se tornará o maior corredor cultural da América Latina,” diz Ronaldo, que preside o comitê MASP em Expansão.
A obra, a cargo da Racional Engenharia, deve ficar pronta em 2024, idealmente para que o novo equipamento seja inaugurado em 9 de julho, data em que se comemora a Revolução Constitucionalista.
Assis Chateaubriand e Pietro Maria Bardi fundaram o MASP em 1947 num andar da sede dos Diários Associados, no Centro de São Paulo. Em 1968, o museu saiu do Centro e se mudou para o prédio atual, projetado por Lina Bo Bardi, numa inauguração que contou até com a Rainha Elizabeth.
Agora, depois de anos de trabalho metódico para elevar a governança do museu — em grande parte liderado por Alfredo Setubal — o MASP está mais forte do que nunca.
“O Alfredo deveria ser nome de ponte em São Paulo — não de túnel, mas de ponte! — por tudo que ele já fez pela cultura de São Paulo, começando pelo resgate da Bienal,” diz Ronaldo.
A expansão física é uma injeção de autoestima num momento em que o MASP já vem aumentando sua inserção internacional.
Em 2018, a mostra Histórias afro-atlânticas foi eleita uma das três melhores do mundo pelo The New York Times — e marcou a primeira vez que uma mostra produzida por um museu não-americano foi reconhecida pelo jornal.
A mostra vai circular por seis grandes museus americanos a partir deste ano, mostrando que, se organizar direitinho, esse País ainda pode dar orgulho.