BOSTON – Sua empresa tem mulheres no C-level? Quantas pessoas pretas serão atendidas pelo seu negócio? Qual a sua política para o meio ambiente?
É assim que Anita Fiori, líder para investimentos privados do Banco Interamericano de Desenvolvimento, vai avaliar um possível investimento em um negócio ou projeto.
“Como executiva de um banco público, preciso fazer essas perguntas,” disse ela aqui na conferência MBA Brasil 2022, na Harvard Business School, para uma plateia de estudantes brasileiros de MBA nos EUA e na Europa.
O impact investing exige que, além do retorno financeiro, um projeto gere também dividendos sociais e ambientais. “E isso é perfeitamente mensurável,” disse Anita. “Precisamos monitorar como se fosse um investimento financeiro. Diversidade dá retorno.”
Segundo ela, os investidores internacionais estão de olho em quatro cores quando vão abrir a carteira para novos projetos: azul do clima, verde das florestas, rosa das mulheres e agora marrom dos negros.
“Já fizemos investimentos com mais de 120 fundos, e nenhum deles tinha um negro na liderança,” contou ela. “Faremos o primeiro agora.”
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No mesmo painel, Raul Cadena, o chief customer officer da Auren Energia, do Grupo Votorantim, disse que, com o encaminhamento da regulamentação no País do mercado de crédito de carbono, “pela primeira vez o Brasil conseguirá preservar a Amazônia e gerar renda.”
Isso abre uma nova perspectiva para a região. “Com uma receita de dezenas de milhões, rentabilizando o setor privado, haverá recursos para desenvolver a economia e a sociedade da região por meio de programas sustentáveis,” disse Raul.
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Daniella Marques, a presidente da Caixa, foi convidada a falar sobre diversidade e inclusão – e contar sua experiência revertendo a crise no banco público depois das denúncias de uma cultura de assédio pelo ex-presidente e outros executivos.
“A proposta que levei ao conselho do banco foi abraçar a causa das mulheres. Aproveitar a força da rede de agências em todo o País para criar canais de denúncia,” disse Daniella.
A iniciativa transbordou para parcerias com outras 200 empresas – e também virou projeto comercial, com a decisão de criar um atendimento personalizado para as mulheres.
“Para mim, toda pauta atrasada é urgente,” disse ela. “Essa era uma pauta urgente.”
Refletindo sobre sua própria trajetória profissional – foi sócia de Paulo Guedes no setor privado antes de ir para o Governo – Daniella acredita que as mulheres precisam ser incentivadas a se relacionarem com os homens de igual para igual. “Precisam de encorajamento, não de proteção.”
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Quem encerrou o evento foi Celso Athayde, que não tem diploma (muito menos de Harvard), mas cuja história de luta e empreendedorismo tem inspirado boa parte do PIB.
O CEO da Favela Holding, um conglomerado que já soma 23 empresas, até hoje não consegue ler as legendas de um filme, mas mesmo com pouco estudo, teve talento de sobra para sair da miséria e prosperar seguindo uma receita simples: favelado é gente de baixa renda, mas não é carente.
“Favela não é carência, é potência,” diz o slogan que Celso criou há mais de 20 anos.
A Central Única das Favelas (CUFA), entidade que promove o empreendedorismo e ações sociais na favela, desenvolveu um modelo exportado para outros países. O sucesso da organização – “com fins lucrativos”, como ressalta Celso – fez ele ser escolhido o “empreendedor social do ano” na mais recente edição do Fórum de Davos.
“Sempre quis ser rico para ajudar o entorno,” disse Celso. “Sempre fui capitalista mesmo.”
Foi esse tino capitalista que o fez ver que os favelados – 17 milhões, nas contas do IBGE – não são pessoas carentes que dependem de assistencialismo. São famílias de baixa renda, sem condições de morar no asfalto, mas que ganham dinheiro, abrem negócios e precisam de apoio para desenvolver projetos.
As empresas, disse Celso, erram quando tratam as pessoas de baixa renda da favela como laboratório para o lançamento de produtos, “como se fossem camundongos”, ou quando visitam as favelas como “se estivessem num safári.”
“Precisamos dividir com os favelados as riquezas que eles produzem. Senão, nunca acabaremos com a desigualdade.”
O repórter viajou a convite da conferência MBA Brasil 2022. Foto de Isabela Rosa.
