A Ânima precificou sua oferta de ações agora à noite em meio a uma demanda cavalar, com os investidores aceitando pagar para ver mais aquisições e reavaliando dramaticamente uma empresa que costumava negociar com desconto em relação ao setor.

A companhia levantou R$ 1,1 bilhão vendendo 30 milhões de ações a R$ 36,25 — cerca de 20% acima de onde o papel negociava em 6 de janeiro, antes da Agência Estado noticiar pela primeira vez a existência da oferta.  (O ‘hot’ issue foi colocado e aumentou a oferta em 35%.)

A demanda equivaleu a 9,6 vezes a oferta básica e 6,5x quando se inclui o ‘hot issue’.

Depois de anos relegando a Ânima a um papel coadjuvante no rali das empresas de educação — a Ânima tinha FIES de menos, não era uma máquina de aquisições e sua estratégia de preservar as marcas adquiridas reduzia as sinergias possíveis — o mercado começou a ver a empresa sob outra luz.

A companhia melhorou muito nos últimos anos.  O CEO Marcelo Bueno arrumou a casa, redesenhou a estrutura administrativa e deu continuidade à estratégia de realizar bens sucedidas aquisições de boas marcas regionais, com foco crescente em cursos de medicina — contratando um crescimento de resultado nos próximos anos.

Este crescimento tem cinco vetores:  a maturação das unidades abertas nos últimos anos; um novo modelo acadêmico que aumenta o número de alunos por professor; a incorporação e a extração das sinergias dos M&As dos últimos anos; o aumento das vagas de medicina. Por fim, depois de 4 anos de queda nominal em seu tíquete médio, a Ânima comecou a aumentar preços na captação no segundo semestre no ano passado, começando a compensar a queda dos últimos anos.

Depois de rodar abaixo de 15% em 2019, o mercado espera que a margem EBITDA suba para mais de 20% até 2021 e 25% até 2023.

Mas nos múltiplos de hoje, os investidores estão pagando na frente por um pipeline robusto de M&A que pode se demonstrar transformacional para a empresa. Os controladores concordam: segundo uma fonte, investiram R$ 150 milhões na oferta.

Nos últimos quatro anos, os M&As no setor foram raros porque os vendedores ainda estavam acostumados com os múltiplos gordos da era FIES.  Agora, a Ânima tende a se beneficiar de expectativas de preço mais realistas e de fundadores que querem vender para uma instituição que sempre se mostrou disposta a preservar a cultura e o legado de seus alvos.

Assumindo que a empresa gaste os recursos da oferta em aquisições a um múltiplo de 12 vezes EBITDA, dado o histórico de integração da companhia o mercado espera que este múltiplo contraia para 7x em 2023, quando a companhia terá se apropriado de todas as sinergias.

A Ânima agora negocia a um prêmio razoável em relação a outras companhias do setor.  A Ânima negocia a 13,5x EV/EBITDA para 2020, Yduqs, SER e Cogna negociam entre 11 e 12x EV/EBITDA. 

Como todas as empresas do setor, o maior desafio da Ânima continua sendo recuperar o tíquete médio da época do FIES.  “Este é um mercado difícil de fazer preço, mas existe a expectativa de que ela vai gerar mais valor com aquisições e que esse portfolio de marcas superiores vai estancar a sangria no tíquete médio,” diz um investidor. 

Os coordenadores foram XP Investimentos, Bradesco BBI, JP Morgan e Itaú BBA.