A Ânima Educação comprou a MedRoom, uma startup cujas soluções de realidade virtual e realidade aumentada equivalem a uma pequena grande revolução na educação médica.
O software da MedRoom simula o corpo humano em condições sadias e patológicas, permitindo aos estudantes de medicina treinar para consultas e procedimentos cirúrgicos em condições análogas à vida real.
Fundada há cinco anos, a MedRoom já licenciou seu software para 20 das cerca de 340 faculdades de medicina do País.
Um dos clientes era a Ânima, que contratou a startup há dois anos para fazer alguns estudos de caso em RV. A relação logo evoluiu.
“Vimos que eles têm um negócio incrível, totalmente diferenciado,” o chairman da Ânima, Daniel Castanho, disse ao Brazil Journal. “Não tem ninguém fazendo isso aqui no Brasil, e quem está fazendo lá fora não faz com a mesma qualidade.”
A aquisição faz parte da estratégia da Ânima de aumentar a proposta da valor da Inspirali — a subsidiária que congrega seus cursos de medicina e tem 1.770 vagas depois da compra da Laureate.
Para efeito de comparação, a Afya, hoje a maior companhia de educação focada em medicina, tem 2.303 vagas autorizadas, mas em mercados menores como Acre e Pará e em cidades periféricas em vez de capitais. Já as vagas da Ânima estão concentradas em grandes centros do Nordeste e Sudeste.
A MedRoom é uma dessas histórias que desafiam o complexo de vira-lata brasileiro e ainda dão esperança no País.
A companhia nasceu quando Sandro Nhaia — um autodidata em computação gráfica que já havia trabalhado com cinema, jogos e publicidade — resolveu aplicar o que sabia na área da saúde. Sandro levou a ideia a um evento organizado pelo Núcleo de Empreendedorismo da USP. Lá, conheceu Vinícius Gusmão, estudante de biologia e um dos organizadores do evento.
Em 2016, os dois começaram a trabalhar juntos, apresentando o conceito a potenciais investidores, clientes e alunos de medicina para validar a ideia.
No ano seguinte, fizeram um protótipo e conseguiram R$ 500 mil de uma aceleradora gaúcha, a Healthplus, e do hospital Albert Einstein.
Em maio de 2018, lançaram a primeira versão comercial do produto — basicamente, a simulação de dois pacientes sadios (Max e Lucy), usados para estudos anatômicos.
Agora, a MedRoom começou a desenvolver os chamados “gêmeos digitais” — avatares humanos que permitem reproduzir situações clínicas com inteligência artificial.
“Hoje, o aluno só aprende na residência com os casos reais que estão lá — é uma aprendizagem oportunística,” diz José Lúcio Martins Machado, o CEO da Inspirali. “Com a RV, a gente consegue sistematizar tudo aquilo que é importante na clínica. Se o aluno conseguir ver um paciente real, ótimo, mas se não, ele tem a realidade virtual.”
Outra vantagem da realidade virtual: o aluno aprende empatia, afetividade e comunicação com os pacientes-avatares.
Para criar os gêmeos digitais, a MedRoom contrata atores profissionais que estudam seus papeis como pacientes e permitem a programação dos avatares.
Trabalhando em cima de scripts, os atores vestem um capacete cravejado de sensores e praticam cenas humanas como sorrir, chorar, mexer a boca e reclamar de dor. Cada comportamento é reproduzido no avatar.
Quando o aluno faz uma pergunta, o avatar responde com base em árvores de diálogo construídas por médicos.
“Se fizéssemos isso tudo num robô, não humanizaríamos a relação, mas a RV permite aproximar aquela cena do humano,” diz José Lúcio.
A MedRoom já produziu pacientes-avatares afligidos por câncer, dengue, tuberculose e febre amarela, além de ter simulado um caso de urgência: RCP (ressuscitação cardiopulmonar) e está trabalhando em mais de 30 outras situações clínicas.
O valor da aquisição não foi revelado, e os fundadores devem ficar na operação pelos próximos cinco anos.