Adicionando mais incerteza a um cenário já caótico, a Americanas foi à Justiça ganhar tempo, colocando na mesa a perspectiva de um pedido de recuperação judicial.
A Justiça concedeu hoje à empresa uma medida de tutela de urgência cautelar, que suspende a possibilidade de bloqueios, sequestros ou penhora de bens. Também adia a obrigação de pagar dívidas até um pedido de RJ. A companhia declarou à Justiça ter dívidas no valor de R$ 40 bilhões.
Segundo o texto da decisão judicial, a medida é “preparatória de processo de recuperação judicial”. A empresa tem 30 dias para decidir se pede ou não RJ.
A decisão, da 4a. Vara Empresarial do Rio de Janeiro, diz ainda que credores, como o BTG, estão pedindo o vencimento antecipado de dívidas no valor de R$ 1,2 bilhão.
A decisão da Justiça vem ao final de um dia em que a ação chegou a subir 58,8% e ser negociada a R$ 4,32. O papel fechou cotado R$ 3,15, uma alta de 15,8%
Até esta tarde, a expectativa era que a Americanas conseguiria um fôlego financeiro fazendo uma oferta de ações com a participação em peso dos acionistas de referência – Carlos Alberto Sicupira, Marcel Telles e Jorge Paulo Lemann.
Nesse cenário, os bancos credores concordariam em renegociar as dívidas da companhia e estender prazos de pagamento.
Mas uma reunião realizada na tarde de hoje entre a Americanas e os bancos credores terminou sem acordo.
Na reunião, Sergio Rial, ex-CEO da Americanas, disse que o trio de acionistas poderia injetar cerca de R$ 6 bilhões na empresa. Mas não deu garantias, disse ao Brazil Journal um executivo que participou do encontro.
“Esse valor de R$ 6 bilhões parece pouco, mas o principal problema é que não dá para cravar um valor sem a reapresentação do balanço”, disse esse executivo. “Além disso, Rial não tem um mandato dos acionistas.”
Diante das incertezas, os bancos pediram uma nova reunião para definir se haverá renegociação.
“A questão é que o problema no balanço mostrou que a Americanas não é uma empresa rentável,” disse um gestor de ações. “Há anos, os lucros eram inflados e o passivo, em grande medida, omitido. Os resultados, que já eram medianos, são, na verdade, piores.”
Para um veterano do varejo brasileiro, o que acontece com a Americanas não é trágico apenas para os acionistas e dramático para os credores. “Coitados dos pequenos e médios fornecedores que sempre foram explorados com grandes prazos de pagamento e no vencimento recebiam com 30 ou 60 dias sem juros. Agora não vão receber por um tempo grande: quebrarão.”
A Americanas informou na quarta-feira a descoberta de “inconsistências contábeis” no balanço que podem chegar a R$ 20 bilhões. Mas essa é uma estimativa: o número ainda precisa ser confirmado pela auditoria externa.
Num problemático call com o mercado ontem, Rial disse que a empresa precisará de uma capitalização e que ela não será de “milhões, mas de bilhões.”
Disse ainda que o trio de acionistas teriam o “compromisso em fazer parte da solução desde que a capitalização leve a resultados mais consistentes”.
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