A ação da Ambev ficou sob pressão nos últimos dias com o escândalo da Americanas.
Gestores têm reavaliado a tese de investimento, destrinchando o balanço em busca de práticas contábeis duvidosas e temendo uma retaliação dos bancos contra a empresa.
Mas na operação do dia a dia, as coisas estão descendo redondo na fabricante de bebidas de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Num relatório publicado hoje, o Credit Suisse sinaliza para um ganho de share importante da Ambev em relação a concorrentes como o Grupo Petrópolis.
O relatório — escrito com base numa pesquisa proprietária do CS com 205 bares de São Paulo — diz que a distribuição do Grupo Petrópolis nos bares caiu significativamente no último ano. A Petrópolis passou de uma cobertura de 64% dos bares visitados há um ano para apenas 44% hoje.
“Enquanto a Ambev e a Heineken continuam a mostrar uma forte penetração na distribuição, a queda do Grupo Petrópolis foi o principal highlight do nosso tour deste ano,” escreveram as analistas Marcella Recchia e Fernanda Sayão, notando que a Petrópolis já vem performando mal há algum tempo, com a Ambev herdando boa parte deste market share.
A pesquisa do CS também mostra um crescimento importante da Spaten, a marca alemã da Anheuser-Busch InBev que a Ambev trouxe para o Brasil em agosto de 2021.
Com apenas um ano e meio no mercado, a presença da Spaten já está alcançando a de marcas premium estabelecidas, como a Budweiser e Stella Artois, diz o relatório.
Na visita aos bares, o CS encontrou a Spaten em 66% deles, em comparação a apenas 9% no estudo de 2021.
“Curiosamente, também ouvimos muitos bares comparando a Spaten com a Heineken. Alguns disseram que a Spaten se tornou a marca ‘go-to’ sempre que eles ficam sem Heineken, com alguns notando até que os consumidores mudaram completamente sua preferência para a Spaten.”
Outro insight do estudo foi em relação à penetração do BEES, o marketplace B2B da Ambev onde os bares podem fazer pedidos de produtos da Ambev e de terceiros.
O CS descobriu que 83% dos bares que vendem cervejas da Ambev usam o BEES para fazer seus pedidos. Há um ano, esse percentual estava em 71%.
Dos bares que usam o marketplace, 70% disseram que também compram outros produtos, e 75% disseram achar a experiência melhor e mais conveniente em termos de logística.
Do total, 10% disseram que estão usando o BEES Bank (em comparação a 0% um ano atrás). A vertical de serviços financeiros inclui a oferta de um terminal POS, crédito e cashback.
O “BEES é uma “potência” de crescimento no longo prazo,” disse Marcella, do Credit Suisse.
Sobre a Heineken, o relatório mostra que a penetração nos bares caiu de 90% um ano atrás para 88% hoje. Do lado positivo, apenas 20% dos bares reportaram problemas com o supply da companhia. Há um ano, essa fatia era de 31% e, em 2020, de cerca de 50%.
“Isso se explica provavelmente pela saída da marca do sistema Coca-Cola em setembro de 2021 e pelo aumento da capacidade instalada da empresa.”
A ação da Ambev subiu 5% hoje, em linha com uma alta generalizada da Bolsa. Desde que o escândalo da Americanas se tornou público, há uma semana, o papel já caiu 4,7% (incluindo a alta de hoje), em comparação a uma alta de 0,22% do Ibovespa na última semana.