A Ambev reportou um segundo trimestre com uma dinâmica muito parecida com a do primeiro: volumes fortes no Brasil, mas números fracos no Canadá e principalmente na Argentina.
No consolidado, o volume de vendas cresceu 0,4%, ano contra ano, e a receita líquida, 4,8%, para R$ 20 bilhões.
O crescimento foi puxado pelo Brasil, que viu um aumento de 4,1% nos volumes e de 3,9% na receita líquida/hectolitro. Já a América Latina Sul — que engloba a Argentina, Paraguai, Bolívia e Chile — viu os volumes caírem em 13,9%, e o Canadá, em 6,7%.
O CFO Lucas Lira disse ao Brazil Journal que a demanda no Brasil — o principal mercado da empresa — segue “super saudável” e que a “nossa estratégia comercial e de portfólio continua funcionando.”
“Nossas marcas core continuam crescendo low single digits, e nossas marcas core plus e premiums continuam crescendo low teens,” disse ele. “Quando olhamos os drivers de crescimento vemos que as escolhas de marcas que fizemos para focar foram muito assertivas.”
Desde 2022, a Ambev tem apostado tudo em quatro marcas: a Corona, no segmento super premium; a Spaten, no premium; a Budweiser, no core plus; e a Brahma, no core. “Essas marcas já tinham funcionado bem no ano passado e continuaram tendo uma boa demanda este ano,” disse o CFO.
Na Argentina, os resultados fracos têm a ver com a hiperinflação que tem afetado nossos hermanos, que têm perdido renda, impactando o consumo.
“Historicamente, a indústria de bebidas é mais resiliente que outras categorias de bens de consumo, mas ela não é imune. Do início do ano para cá, temos sofrido bastante com isso lá, mas o resto da América Latina Sul continua indo muito bem,” disse Lucas.
Segundo ele, a companhia se preparou para essa situação da Argentina reduzindo os hedges cambiais desde agosto de 2022 e a exposição da operação ao dólar, e buscando fornecedores locais.
“Já vivemos situações parecidas na Argentina no passado, então já temos um playbook para navegar esse tipo de situação.”
No Canadá, a queda nos volumes teve a ver basicamente com fatores exógenos. Junho, quando começa o verão canadense, foi um mês mais frio do que a média histórica do país, o que naturalmente afetou as vendas de cerveja.
“O maior efeito foi o clima. Mas a inflação ainda está alta lá para os padrões canadenses, e a confiança do consumidor está pior que no ano passado,” disse o CFO. “Mas achamos que as coisas devem melhorar para frente e estamos muito bem posicionados para capturar essa melhora.”
Os volumes fortes no Brasil — que vieram um pouco acima das projeções do sellside — levaram a Ambev a entregar um EBITDA superior ao consenso.
A companhia reportou um EBITDA de R$ 5,8 bilhões no trimestre, uma alta de 15,9% ano contra ano, em comparação aos R$ 5,6 bi do consenso Bloomberg.
A margem EBITDA subiu 300 basis points no trimestre para 30,9%, e a margem bruta, 200 bps para 51%.
Na rentabilidade, o destaque negativo foi o lucro líquido, que caiu 8,3% na comparação anual, para R$ 2,45 bilhões, vindo abaixo das projeções do sellside, que esperava algo em torno de R$ 2,6 bilhões.
Lucas disse que o resultado financeiro foi bom, com uma melhora de R$ 450 milhões ano contra ano por conta da redução dos hedges na Argentina e da queda do custo de carrego dos hedges no Brasil, que caiu quase pela metade.
“O que pegou nesse trimestre foi a redução de dois itens que deixaram de ser dedutíveis para fins de imposto de renda: uma menor dedutibilidade do JCP e o fim da dedutibilidade dos nossos incentivos fiscais de ICMS,” disse o CFO.
No primeiro tri, a Ambev já havia sofrido com essas mudanças, que passaram a valer em janeiro, mas a empresa teve um benefício específico, a renovação de um incentivo fiscal que acabou compensando essas duas perdas.
Neste tri não houve nenhum benefício, o que fez o lucro cair.
Segundo Lucas, a alíquota efetiva do IR no segundo tri foi de 29%, em comparação aos 15% do primeiro tri e aos 11% do segundo tri do ano passado.
A companhia divulgou um indicador que ela chama de DVA (demonstração do valor adicionado), que basicamente mede o quanto do valor gerado pela empresa ficou com o Estado (na forma de tributos), com os funcionários, credores e acionistas.
“No ano passado, a Ambev recolheu R$ 30 bi em tributos, o que representou 50% de todo o DVA. No segundo tri, a fatia que foi para o Estado chegou a 65%,” disse ele.