A Jumia, o maior ecommerce da África, acaba de fazer um IPO em Nova York, numa oferta que deixou claro o apetite dos investidores por um mercado ainda inexplorado pelas gigantes de tech.

A empresa levantou US$ 196 milhões a um valuation de US$ 1,5 bilhão, o mesmo que teve em sua última rodada privada, em dezembro. No primeiro dia de negociação, as ações dispararam mais de 75% na NYSE.

Foi a primeira estreia de uma startup africana nos EUA.

Fundada em 2012 na Nigéria, a Jumia tem mais de 4 milhões de usuários ativos e está presente em 14 países do continente. A empresa opera num modelo parecido ao da Amazon e Alibaba: vende com estoque próprio, mas o grande trunfo é o marketplace, que representa quase 90% das vendas. São mais de 81 mil vendedores na plataforma.  

Recentemente, começou a expandir sua atuação: lançou uma plataforma de booking, um serviço de delivery de comida e uma divisão de pagamentos, a Jumia Pay.

Num continente onde a infraestrutura consegue ser (muito) pior que a do Brasil, um dos grandes méritos da Jumia foi ter desenvolvido uma estrutura própria de logística que funcionasse na região.

Ela opera com uma rede de armazéns alugados e estações de retirada, e criou um ecossistema amplo de distribuidores parceiros. Em alguns mercados, também faz as entregas com frota própria.

Na África, o desafio do delivery é de outro nível: algumas cidades não têm CEP e boa parte dos consumidores ainda preferem pagar com dinheiro na hora da entrega. O problema: o consumidor precisa estar em casa e muitos dos produtos acabam retornando aos CDs. Em 2018, mais de 14% das vendas terminaram dessa forma.

O management vendeu as dificuldades como um dos grandes diferenciais da Jumia: como a empresa já está acostumada com a logística e as peculiaridades da região, em tese, sempre estará um passo a frente da concorrência.

Mas o grande atrativo do investimento é o crescimento do ecommerce na África, um mercado ainda extremamente subpenetrado. A ideia é que a Jumia consiga repetir por lá o que Amazon e Alibaba fizeram nos Estados Unidos e China.

“É tudo uma questão de dar visibilidade”, Sacha Poignonnec, um dos fundadores, disse à Bloomberg. “Milhões e milhões de africanos ainda estão descobrindo os benefícios do ecommerce”. Nos mercados em que a Jumia opera, a penetração das vendas online é de menos de 1%.

A Jumia foi fundada em Lagos, uma metrópole no sudeste da Nigéria, por Poignonnec e Jeremy Hodara, dois franceses que trabalhavam na McKinsey, e Tunde Kehinde e Raphael Afaedor, dois empreendedores africanos. Em 2015, Tunde e Raphael deixaram a companhia para criar outras startups.

No ano passado, a Jumia atingiu uma receita de US$ 147 milhões, um crescimento de 40% ano contra ano, e um GMV de quase US$ 1 bilhão. A empresa ainda está no vermelho – e deixou claro no prospecto que deve continuar assim por mais um bom tempo.

Os maiores riscos? A instabilidade política de alguns países da África e, principalmente, o aumento da competição.

Por enquanto, nenhum player global tem presença forte na África, mas isso deve mudar em breve. O Alibaba já sinalizou que pretende iniciar uma expansão no continente e a DHL lançou ontem uma plataforma própria de ecommerce, a DHL Africa eShop.

O sistema permite que qualquer player de qualquer lugar do mundo venda seus produtos no continente.

A Amazon oferece vendas limitadas na região, mas também está de olho no bolso dos africanos: recentemente começou a oferecer seus serviços de computação na nuvem em alguns países da África.