Turbinado por uma rodada de capital, o Alicerce agora vai escalar seu negócio: uma rede que oferece reforço escolar na periferia das cidades, diminuindo a distância que separa jovens nascidos em CEPs diferentes.

A startup, que hoje tem 12 polos, acaba de levantar R$ 20 milhões para abrir mais 70 unidades até meados do ano que vem.

Por enquanto, o Alicerce está presente no Estado de São Paulo, em lugares como Osasco, Brasilândia e Rio Pequeno, e em Belo Horizonte e Curitiba, atendendo mais de 400 jovens. Cerca de 80% deles são alunos da escola pública. 


A empresa foi fundada há apenas três meses pelo ex-CEO da Dental Cremer, Paulo Batista.

A rodada foi liderada pelos fundos Canary e Valor Capital, e teve a participação de investidores pessoa física como Armínio Fraga, David Feffer, Luiz Fernando Figueiredo, Wolff Klabin e Daniel Goldberg. 

Anteriormente, o Alicerce já recebera um capital semente da Good Karma Ventures, um fundo de VC recém-criado pelo fundador do RenovaBR, Eduardo Mufarej, além de outros dois investidores-anjo: Luciano Huck e Jair Ribeiro, um veterano do mercado financeiro e hoje presidente da ONG Parceiros da Educação. 

Na prática, o Alicerce é um complemento ao ensino (trágico) das escolas públicas brasileiras, atuando no chamado contraturno. 

Os alunos têm cinco horas de aulas por dia, cinco dias por semana. O foco são as disciplinas de português, matemática, inglês e computação. Mas há também aulas menos ortodoxas: todos os dias os alunos têm uma sessão de mindfulness e aulas de habilidades socioemocionais, conhecimentos gerais e até de projeto de vida, onde discutem planos para o futuro. 

A grande disrupção é o preço: os pais pagam apenas R$ 150 por mês.

“É um modelo revolucionário,” Gilson Rodrigues, líder comunitário de Paraisópolis e presidente da União dos Moradores, disse ao Brazil Journal. “Aqui, muitos pais pagam R$ 300 para deixar os filhos com cuidadoras. Eles [o Alicerce] cobram metade disso e entregam um resultado muito mais importante.”

O Alicerce opera no setor conhecido como “2.5” (também chamado de negócios ‘de impacto’), que fica no meio do caminho entre um negócio for profit e uma ONG. O conceito por trás é que não há melhor forma de gerar impacto social do que estruturando o projeto como um negócio, ao mesmo tempo em que a melhor maneira de crescer uma empresa é resolvendo o problema das pessoas. 

Segundo Batista, o Alicerce cobra o mínimo necessário para o negócio ser sustentável e remunerar o capital. 

O negócio do Alicerce é nobre, mas a meta parece simplesmente insana: a startup quer chegar a 4 milhões de alunos em cinco anos, com 5 mil polos espalhados pelo País.

O fundador explica: “No Brasil, existem quase 40 milhões de alunos em vulnerabilidade educacional. Se conseguirmos impactar 10% deles, criamos uma massa crítica e o País inteiro começa a melhorar educacionalmente. Salvamos uma geração e entramos num ciclo positivo de recuperação completa desse cenário.” 

Periodicamente, o Alicerce faz uma avaliação para medir a performance dos jovens nas competências oferecidas pelo curso. No primeiro um mês e meio, Batista diz que os alunos evoluíram em média 1,2 ano de conteúdo escolar.

Mais do que isso, a startup tem mudado vidas, dando esperança aos jovens da periferia de que é possível ter um futuro melhor. 

No Alicerce, os professores (chamados de “líderes”) são universitários ou recém-formados que nasceram na periferia mas conseguiram desafiar a estatística, entrando nas melhores faculdades do Brasil. 

A ideia é que as crianças se inspirem com as histórias deles e percebam a importância da educação. 

“Esses jovens têm muitos sonhos: de ser médico, engenheiro, advogado… Mas a educação nas comunidades é tão ruim, está tão difícil a situação que ninguém mais acredita. Nossas crianças estão perdendo seus sonhos,” diz Gilson, que atua há mais de 12 anos como líder comunitário em Paraisópolis. “O Alicerce ensina elas a voltar a sonhar.”